Imprimir Mariana Alvim (1909-2001)
  1. Mariana Alvim (1909-2001)Psicóloga

    Nascida no Rio de Janeiro, filha de Álvaro Alvim (médico responsável pela introdução da radiologia no Brasil) e neta de Angelo Agostini (o cartunista brasileiro de maior destaque durante o período imperial, no século XIX), Mariana de Agostini Vilalba Alvim realizou sua formação em Psicologia na Sorbonne/Paris, estudando com Henri Wallon,cuja influência formativa sobre Mariana se fez sentir também na adesão desta ao marxismo (Marwell, 1999).
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    Nascida no Rio de Janeiro, filha de Álvaro Alvim (médico responsável pela introdução da radiologia no Brasil) e neta de Angelo Agostini (o cartunista brasileiro de maior destaque durante o período imperial, no século XIX), Mariana de Agostini Vilalba Alvim realizou sua formação em Psicologia na Sorbonne/Paris, estudando com Henri Wallon,cuja influência formativa sobre Mariana se fez sentir também na adesão desta ao marxismo (Marwell, 1999). De volta ao Brasil, durante a ditadura varguista, Mariana se gradua também na Faculdade de Serviço Social do Rio de Janeiro.

    Mariana Alvim se destaca no processo de autonomização não apenas da Psicologia, como também do Serviço Social ¿ evidenciando uma característica deste período: certa indiferenciação de fronteiras entre profissões emergentes. Outra característica frequente entre tais profissionais é a inserção no serviço público. Mariana Alvim atuou no Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão criado em 1941 pelo Ministério de Justiça e Negócios Interiores, no Rio de Janeiro, voltado à organização da assistência, tratamento e correção dos menores infratores (Jacó-Vilela e cols., 2012). A atuação em Psicologia no SAM era eminentemente psicométrica, isto é, avaliação do perfil do jovem delinquente, através de testes de inteligência e personalidade. Paralelamente, o Serviço Social era responsável pela investigação social do ambiente social, familiar e escolar da criança/jovem. Possivelmente, a dupla formação de Mariana levou-a a transitar entre estas duas áreas de atuação no SAM.

    Ainda na década de 1940, Mariana Alvim tem a oportunidade ¿ através de bolsa de estudos ofertada pelo Departamento de Administração do Serviço Público (DASP) ¿ de fazer aperfeiçoamento em Assistência à Infância nos EUA. Nesta viagem, Mariana realiza treinamentos com Carl Rogers em Chicago, sendo considerada a primeira brasileira a ter contato e trazer ao Brasil as técnicas da terapia não-diretiva (Campos, 2005).

    De volta ao país, participa de curso oferecido pelo DASP sobre Orientação e Seleção Profissional, com o psiquiatra espanhol Emílio Mira y López, em 1946. No ano seguinte, Mira y López convida sete alunos deste curso (Mariana, dentre eles) para trabalhar no Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas (Souza & Cunha, 2001). O ISOP se notabilizou como um grande centro de formação profissional e divulgação da psicologia aplicada no Brasil. Mariana Alvim atuou com seleção, orientação profissional, além de "orientação vital": uma modalidade de orientação psicológica voltada fundamentalmente para crianças e jovens (e suas famílias), dotada de um caráter fortemente pedagógico (Degani-Carneiro e Jacó-Vilela, 2012).

    Neste período, havia intensos embates em torno do exercício da psicoterapia (especialmente, a de adultos), com fortes pressões da classe médica no sentido de defini-la como função privativa da Medicina. Entretanto, o cuidado terapêutico de crianças e jovens (a orientação vital) era destinado à "infante" Psicologia (Degani-Carneiro, 2010). A teoria rogeriana foi de fundamental importância neste processo como uma alternativa teórica que subsidiava a prática terapêutica destes psicólogos pioneiros, pois a formação em psicanálise no Rio de Janeiro era restrita aos médicos.

    Ainda no Rio de Janeiro, Mariana Alvim foi psicóloga da Sociedade Pestalozzi e também chefiou o Serviço Social Psiquiátrico do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil (IPUB).

    Com a fundação de Brasília em 1960, Mariana se transfere para a nova capital, trabalhando como chefe do Centro de Psicologia Aplicada da Prefeitura do Distrito Federal. Em 1962, a convite do reitor Darcy Ribeiro, criou o Serviço de Seleção e Orientação da Universidade de Brasília (UnB). Embora tenha coordenado a aplicação de testes psicológicos em mais de 1000 alunos para a seleção da primeira turma, além das primeiras seleções de servidores, não permaneceu na UnB, como muitos outros que participaram dos primeiros momentos desta Universidade.

    Alvim relata, em entrevista realizada em 1991 (conforme citada por Trzan-Ávila, 2013), sua admiração pelo psicólogo e filósofo marxista francês Henri Wallon (1879-1962)  que influenciou sua vida e prática profissional. Assim, o marxismo foi inspirador de reflexões, ideias, bem como de sua militância política. Esta, esteve presente principalmente pela resistência à ditadura, levando a nova direção da UnB a solicitar sua  saída da  instituição em 1965. 

    Alvim voltou então ao seu órgão de origem, o Ministério da Justiça, atuando no sistema penitenciário, realizando a avaliação psicológica dos apenados. Seus pareceres possibilitavam o indulto, a liberdade condicional ou, mesmo, a continuidade da situação dos mesmos. Na citada entrevista, Alvim afirma que este trabalho muito a afligia, mas  "bem que eu consegui libertar muitos", deixando claro sua defesa da liberdade e dos direitos humanos. Alvim permaneceu neste serviço até se aposentar, passando a se dedicar à clínica, cursos de formação e de  ensino de cursos de testes psicológicos, como PMK e Rorschach, e consultoria em orientação e seleção profissional até o início da década de 1990.

    Referências

    Campos, R. F. (2005). A Abordagem Centrada na Pessoa na história da psicologia no Brasil: da psicoterapia à educação, ampliando a clínica. Psicologia da Educação (São Paulo). 21, 11-31.

    Degani-Carneiro, F. (2010). A infante ciência e seus infantes: o cuidado com a infância e a autonomização da Psicologia no Brasil nas décadas de 1930-1960. Monografia de graduação em Psicologia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

    Degani-Carneiro, F. & Jacó-Vilela, A. M. (2012). O cuidado com a infância e sua importância para a constituição da Psicologia no Brasil. Revista Interamericana de Psicologia. 46(1), 159-170.

    Jacó-Vilela, A. M., Mello, D. S., Gonzaga, A. F., Barbosa, C. F., Santos, D. F., Ferreira, L. S. S., Messias, M. C. N., Lucas, W. S. J. (2009). LBI, SOHM e SOP: desvãos da história da psicologia brasileira. In Associação Brasileira de Psicologia Social (Org.), Anais de Trabalhos Completos do 15º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social. Rio de Janeiro.

    Marwell, J. (1999). Mariana Agostini de Villalba Alvim. Psicologia: Ciência e Profissão, 19(2), 73.

    Souza, J. M. S. & Cunha, R. N. (2001). Alvim, Mariana Agostini de Villalba. In Campos, R. H. F. (Org.), Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro/Brasília: Imago, CFP.

    Trzan-Ávila, A. (2013). Uma história da Abordagem Centrada na Pessoa no Brasil ¿ Rio de Janeiro e São Paulo (1950 - 1970). Dissertação de Mestrado. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

    Autoria:

    Ana Maria Jacó-Vilela é pesquisadora em história da psicologia no Brasil, coordenando o Núcleo Clio-Psyché, de pesquisas em  História da Psicologia;  bolsista de produtividade do CNPq, cientista do nosso estado da Faperj, Procientista da UERJ. Professora do curso de graduação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Uerj, que atualmente coordena. Membro da Mesa Diretora da Sociedade Interamericana de Psicologia. Coordenadora de Rede Iberoamericana de Pesquisadores em História da Psicologia.  

    Filipe Degani-Carneiro é doutorando em Psicologia Social pelo Programa de Psicologia Social da UERJ.

    Alexandre Trzan D'Avila é mestre em  Psicologia Social pelo Programa de Psicologia Social da UERJ.