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Chana Malogolowkin-Cohen (1924 - )Geneticista
Nasceu na cidade de Maria da Fé, Estado de Minas Gerais, em 13 de setembro de 1924. Filha de imigrantes russos judeus, foragidos do anti-semitismo e da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).Nasceu na cidade de Maria da Fé, Estado de Minas Gerais, em 13 de setembro de 1924. Filha de imigrantes russos judeus, foragidos do anti-semitismo e da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Foi registrada somente em 1925 pelos pais Frima Malogolowkin e Morduch Malogolowkin, que era um comerciante de tecidos em Minas Gerais. Estudou em casa até a idade de oito anos, até entrar para a única escola pública da cidade. Na década de 1930, fez o ginásio no colégio Hebreu Brasileiro na Tijuca, onde seu interesse por História Natural foi despertado. Inspirada por Louis Pasteur e Marie Curie, Malogolowkin já queria ser cientista e para isso entrou para o Colégio Universitário, onde foi fazer o curso complementar para tentar entrar em medicina na Faculdade Nacional, com o objetivo de trabalhar no Instituto de Manguinhos. Um ano depois o Colégio Universitário é fechado e ela é transferida para o Colégio Pedro II, onde faz o segundo ano do curso complementar. Em 1942, Malogolowkin fez o vestibular para medicina, mas logo em seguida abandona a idéia, mesmo aprovada, entrando para o curso de História Natural na recém fundada Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, localizada então na Avenida Presidente Antônio Carlos. Formou-se bacharel e depois licenciada em História Natural em 1946, mas já tinha passado a trabalhar com taxonomia e genética de drosófilas desde antes do final do 3º ano do curso. Ela havia sido indicada por Elysiário Távora para trabalhar no departamento de biologia com Antônio Geraldo Lagden Cavalcanti, ambos professores seus na faculdade. Foram Oswaldo Frota-Pessoa e Helena Salles, seus futuros colegas, que incentivaram a jovem cientista a seguir carreira na biologia e na taxonomia e evolução de drosófilas na Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1948, Malogolowkin foi para a antiga Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP trabalhar durante um ano com um grupo liderado por André Dreyfus e Theodosius Dobzhansky. Deste grupo fizeram parte também nomes como Antônio Rodrigues Cordeiro, Crodowaldo Pavan, Antônio Brito da Cunha, Newton Freire-Maia, Hans Burla e Martha Wedel. Nascia ali a famosa “escola Dreyfus – Dobzhansky” da genética brasileira, que viria a render muitos frutos, disseminando a pesquisa em genética no país. Depois desta experiência com os mestres Dobzhansky e Dreyfus, ela foi incentivada a fazer o doutorado, defendendo em 1951 a tese intitulada “A genitália no grupo willistoni (Díptera, Drosophilidae, Drosophila)”, que versava sobre a evolução dos órgãos genitais deste grupo de drosófilas. Com isso, Chana Malogolowkin foi a primeira mulher a se doutorar em História Natural no Brasil. Além disso, ela foi a primeira a utilizar os órgãos genitais dos drosofilídeos para classificar as espécies irmãs, o que não era prática comum na época.
De 1950 a 1956, Chana Malogolowkin trabalhou como pesquisadora no Centro de Pesquisas de Genética da Faculdade Nacional de Filososfia, fazendo pesquisas com genética e evolução de drosófilas do gênero willistoni. Desta forma contribuiu substancialmente para a institucionalização desta ciência no Rio de Janeiro e no Brasil, tornando-se também uma referência internacional na taxonomia de drosófilas.
Em 1956, Chana Malogolowkin foi chamada por Theodosius Dobzhansky para ir trabalhar em Columbia (EUA), financiada pela Fundação Rockefeller. Foi lá que ela fez uma de suas mais importantes descobertas: ela viu que existia uma linhagem de moscas que não geravam machos – o então chamado fator sex ratio, pois alterava a proporção sexual entre machos e fêmeas - e por isso estas linhagens poderiam ser usadas, por exemplo, em controle biológico de moscas. Foi lá que ela publicou os resultados desta pesquisa com D. F. Poulson em um artigo na Science intitulado “Infective Transfer of Maternally Inherited Abnormal Sex-Ratio in Drosophila willistoni”. Este foi o primeiro artigo de uma mulher brasileira publicado nesta revista e o segundo artigo de um cientista brasileiro a ser publicado na mesma, o que deve ser considerado um marco na ciência brasileira, tanto em relação a questões de gênero quanto em relação à própria ciência brasileira.
Em 1957, Malogolowkin volta ao Brasil por um curto período, onde trabalha por seis meses no Centro de Pesquisas de Genética (CPGEn) e depois funda o Laboratório de Genética Bioquímica, também na Faculdade Nacional de Filosofia, onde ela continua seus estudos com a transferência citoplasmática do fator “sex-ratio” em D.willistoni. Descobriu-se algum tempo depois que era uma bactéria, a Wolbachia, que alterava as taxas sexuais nas drosófilas. Hoje esta mesma bactéria está sendo usada em diversas partes do mundo, como Austrália e Brasil, em um programa experimental para o controle do Aedes aegypti, tudo isso derivado diretamente do trabalho de Chana Malogolowkin com as drosófilas.
Chana Malogolowkin voltou em 1958 para a Universidade de Columbia, EUA, trabalhando como full professor com Dobzhansky, ficando em seu departamento até 1964. Malogolowkin também assumiu em Columbia a cadeira de Dobzhansky, quando este se retirou para a Universidade Rockefeller, em 1962. Lá, ela publicou mais um artigo na Science intitulado “Races and Incipient Species in Drosophila paulistorum”, em abril de 1962, fazendo dela umas das poucas cientistas brasileiras a publicar duas vezes nesta revista.
Depois de se casar em 1964, Chana Malogolowkin-Cohen foi para Israel a convite da Universidade Hebraica de Jerusalém, ficando lá por somente um ano. Devido às duras condições de trabalho, ela desiste de trabalhar em Jerusalém e acaba ficando sem emprego. Depois de um tempo sem conseguir trabalhar com genética, Chana Malogolowkin recebe um convite para trabalhar na Universidade de Haifa (Israel), em 1969. Lá, ela funda o Laboratório de Genética de Drosófila na universidade com o auxílio de Eviatar Nevo e da Fundação Rockefeller, depois fundando o atual Instituto de Evolução da Universidade de Haifa. No laboratório e no Instituto, Malogolowkin continuou fazendo o que sempre gostou: pesquisas em genética, excursões a campo, orientando alunos e ensinando. Ela se aposentou em 1979, porém ainda ia a Haifa quando era chamada, dando palestras e fazendo pequenas assessorias. Continuou publicando e foi também professora visitante na Alemanha, trabalhando com Diether Sperlich na Universidade de Tübingen, no início da década de 1980, sempre com evolução de drosófilas.
Primeira doutora em História Natural em 1951, fundadora da Sociedade Brasileira de Genética em 1955 e a primeira mulher brasileira a publicar na Science, Chana Malogolowkin-Cohen é uma das cientistas mais importantes para a história da biologia e da genética em nosso país. Ela dedicou sua vida à pesquisa científica, ao ensino e à disseminação da ciência. Ela também teve um nível de atuação científica internacional que ajudou o país a se projetar no campo das ciências biológicas, contribuindo para a genética brasileira e para o país como um todo, e por isso deve ser lembrada e relembrada.
Hoje Chana Malogolowkin vive feliz em Tel-Aviv, à beira da praia, pintando belas paisagens, com a sua filha, os seus netos e o seu legado.
Fontes:
- Malogolowkin, Chana. Comunicação pessoal.
- OLIVEIRA, M.E.G.C. de. O Centro de Pesquisa de Genética da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil: fundação e atuação na genética Brasileira entre 1950-68. In: 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, 2012, São Paulo. 13º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia: anais. São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades/USP, 2012. v. 13.
- MARCOLIN, N. Chana Malogolowkin: Pesquisadora itinerante. Revista FAPESP, Edição 81 - Novembro de 2002.
Autoria: Miguel E.G.C. de Oliveira
Doutorando em História das Ciências e da Saúde do PPGHCS/COC/FIOCRUZ
Mestre em Genética pela UFRJ