Imprimir MARIA HELENA NOVAES MIRA (1926 - 2012)
  1. MARIA HELENA NOVAES MIRA (1926 - 2012)Psicóloga

    Nascida na cidade do Rio de Janeiro, em 1926, Maria Helena Novaes Mira, uma das Pioneiras das Ciências no Brasil, torna-se referência em diversas áreas, atuando por 40 anos no Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde, em 2000 foi homenageada com o título de Professora Emérita.
    continue lendo

    Nascida na cidade do Rio de Janeiro, em 1926, Maria Helena Novaes Mira, uma das Pioneiras das Ciências no Brasil, torna-se referência em diversas áreas, atuando por 40 anos no Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde, em 2000 foi homenageada com o título de Professora Emérita. Ao longo de sua carreira, marcada por uma genuína paixão pelo magistério,foi professora de institutos e  departamentos de Psicologia, de inúmeras universidades da cidade do Rio de Janeiro, como os Institutos de Psicologia da UFRJ, UERJ, Faculdade Gama Filho, entre outras; em todosintroduziu a cadeira de Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem. Na PUC-Rio, foi coordenadora do programa de pós-graduação e, desde 1996, manteve-se líder atuante e totalmente dedicada a um programa desenvolvido para a Terceira Idade, que nos últimos cinco anos ficou conhecido como Programa de Ativação Cerebral Criativo para Terceira Idade/PACC (2007 – 2012).

    Ainda muito jovem, Maria Helena Novaes ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Santa Úrsula e aos 19, é diplomada em Letras Neolatinas (1946). Interessa-se pela Arte, Arqueologia, História e Cultura, o que a levou a concluir também o Curso de Museus Histórico e Artístico, e, ao cursar a disciplina “didática”, despertou para o tema da Psicologia. Para aprofundar seus conhecimentos viaja à Europa por 6 (seis) meses, visitando diversos centros de arte e museus em Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça.

    No retorno ao Brasil, dá continuidade à sua formação num curso que acabara de ser criado “Terapia Ocupacional”, na Associação Brasileira de Educação. Neste curso adquire não somente a prática no campo da reabilitação, como amplia seus conhecimentos em Psicologia, Biologia e Anatomia. Em seu caminho de formação profissional, sempre aliando teoria e prática, realiza estágios em hospitais do Rio de Janeiro e visitas a centros de reabilitação nos Estados Unidos e Canadá.

    Em 1957, especializa-se em Psicologia do Desenvolvimento pelo Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas (ISOP/FGV), o que a possibilitou aprofundar, sistematizar e contextualizar saberes teóricos de várias áreas da Psicologia Geral, Experimental, Diferencial, Psicoterapia, Técnica de Exames Psicológicos e Estatística. Naquele Instituto, pode desenvolver trabalhos específicos relacionados ao diagnóstico e aconselhamento psicológico, com pesquisas no Campo da Psicologia Aplicada. Em todas as entrevistas dadas, Maria Helena Novaes sempre deu destaque à direção do professor Emilio Mira y Lopez, reconhecendo sua importância como pesquisador em nível nacional e internacional. O que tornou possível ao ISOP/FGV atuações inovadoras nas áreas de ergonomia, orientação e seleção profissional.

    Maria Helena Novaes tornou-se um dos grandes nomes da Psicologia brasileira, cuja contribuição à Psicologia de um modo geral, e à Psicologia Escolar em particular, ostenta a marca da excelência e da inovação(Motta, 1999). No Brasil, ainda atua junto à equipe de profissionais fundadores da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR). Com bolsa de estudos do British Council, vai à Inglaterra, numabusca incessante do saber e por pioneirismo em diferentes áreas, aperfeiçoar-se em Reabilitação Profissional para jovens e adultos. De volta ao Brasil cria o Serviço de Psicologia, na ABBR, onde, por 20 anos, dá aulas de Psicologia na Escola de Formação de Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Na mesma época, de 1955 a 1966, integra a equipe pioneira do Gabinete de Psicologia da Escola Guatemala. Nesta escola experimental, idealizada por Anísio Teixeira, no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), cria o Serviço de Orientação Psicopedagogica.

    Ponto de referência e campo de estágio para universitários de diversas áreas, a escola buscava valorizar as capacidades e talentos dos estudantes em projetos pedagógicos, interdisciplinares, que articulavam teoria e prática em atividades intra e extraclasse. A escola valorizava o conhecimento escolar, as artes, a cultura e o esporte, em atividades de horário integral.

    Retorna à Europa no final dos anos cinquenta, para uma especialização em Psicologia Infantil, na Universidade de Genebra (Instituto Jean-Jacques Rousseau), trabalhando com psicólogos do Desenvolvimento como Barbel Inhelder, R. Dottrens, André Rey e o próprio Jean Piaget. Em Paris, completou seus estudos com René Zazzo, Soubiran, Borel-Maisonny, Gratiot-Alphandéry, Miallaret. Ao regressar foi convidada pelo Pe. Antonius Benkë, Diretor do Instituto de Psicologia Aplicada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, para atuar como professora e pesquisadora no curso de Formação de Psicólogos. Na PUC, torna-se doutora em Psicologia Clínica, em 1968. E, em 1978, volta à Paris para um pós-doutoramento na Universidade Paris-Descartes.

    Maria Helena Novaes, mesmo optando pela formação em Psicologia, jamais relegou seu papel de educadora. Dedicou 66 anos de uma longa e produtiva carreira profissional à busca de alternativas que conciliassem a pesquisa com uma prática pedagógica coerente com sua produção científica.

    Maria Helena Novaes tornou-se assim, um expoente sem igual sensibilizando pesquisadores, estudantes, docentes e profissionais de Psicologia do Desenvolvimento e áreas afins. O termo solidariedade não é sentido somente em seus estudos e conhecimentos puramente teóricos, antes de tudo incorpora-se no caminho único de fazer o que ela melhor sabia: Crescer e Promover o Desenvolvimento Humano.

    Só ajuda alguém a crescer aquele que está aberto para aprender; só educa verdadeiramente quem vê diante de si uma trajetória de realizações criativas, buscando sempre se renovar, demonstrando o seu profundo respeito pelo outro e pela própria vida (Novaes, 1976).

    Como exprimir o que foi a professora Maria Helena Novaes Mira?

     Para os que tiveram o prazer de conviver com ela e ser seu aluno(a) e/ou orientando(a), de partilhar o seu saber e deliciar-se com a sua jovialidade e alegria fica o compromisso  de sempre produzir ideias e pensamentos inovadores e próprios.Mais difícil é transmitir às novas gerações de psicólogos a riqueza de seu pensamento e criação.

    Ao longo da vida desta pesquisadora atuante, sua obra passa por vários interesses: Psicologia Escolar, do Ensino-Aprendizagem, dos Superdotados, Pedagógica, da Criatividade e da Inovação Criadora, das Relações Intergeracionais. Áreas semeadas por ela e devidamente registradas em pelo menos vinte cinco livros. Escrevia, descrevia, analisava e publicava os resultados e conclusões de suas pesquisas em ritmo inigualável de produtividade.

    Maria Helena Novaes deixou lições de ontem, hoje e sempre: o respeito ao ser humano em suas diferenças, necessidades e direitos; liberdade e amplitude de pensamento; abertura para reconhecer a força interna de cada um. Enquanto psicóloga, traçou uma rede a serviço das potencialidades do “ser criativo” em toda dimensão humana.Em entrevista à Revista Psicologia Escolar e Educacional (2008) ela diz:

    Esta é uma oportunidade de refletir sobre minha trajetória profissional na Psicologia Escolar, esperando que minha experiência possa servir de reflexão e crítica dos futuros e atuais colegas nesse campo, para juntos construirmos uma sociedade mais justa, solidária e humana.

    É preciso decifrar esta obra sem esquematizá-la, sem banalizá-la – sem correr o risco de simplificá-la com frases demasiado enxutas e uma lógica acadêmica rigorosa demais. Maria Helena Novaes foi uma acadêmica de mãos cheia, bem clássica e altiva, ao mesmo tempo um ser humano incomum, em sua singela doçura. Com maestria, ela representou sempre um enorme esforço de evitar as palavras corriqueiras e os pensamentos vazios, construindo como ninguém pensamentos complexos com a simplicidade de quem não tem preguiça de elaborar ideias compreensíveis para todos.

    Para aqueles que tiveram o prazer de a conhecer bem, em qualquer fase de sua vida, o nosso texto será uma simples alusão. Para os que não tiveram o prazer de sua convivência, esperamos que seja um convite a introduzirem-se na descoberta de uma obra singular, uma incitação a conhecerem Maria Helena Novaes Mira.

    LIVROS PUBLICADOS

     

    1.      MIRA, M. H. N. Psicologia Escolar. Petrópolis: Editora Vozes, 1970. 357p.

    2.      MIRA, M. H. N. Psicologia Aplicada A Reabilitação. Editora Imago, 1976. Rio de Janeiro, 1976. 195p.

    3.      MIRA, M. H. N. Adaptação Escolar. Petrópolis: Editora Vozes, 1976. 111p

    4.      MIRA, M. H. N. Psicologia do Ensino-Aprendizagem. Petrópolis: Editora Vozes, 1977. 198p.

    5.      MIRA, M. H. N. Desenvolvimento Psicológico do Superdotado. São Paulo: Editora Atlas, 1979. 176p.

    6.      MIRA, M. H. N. Psicologia Pedagógica. Rio de Janeiro: Editora Achiamé, 1982. 195p.

    7.      MIRA, M. H. N. Psicologia da Criatividade, São Paulo. Rio de Janeiro: Atlas, 1986. 166p.

    8.      MIRA, M. H. N. Programa Educativo de Estimulação Integral para o Desenvolvimento de Crianças Bem-dotadas na Rocinha. ABSD, 1991.

    9.      MIRA, M. H. N. Psicologia para Criança Entender. ABSD, 1991.

    10.  MIRA, M. H. N. Psicologia da Educação e Prática Profissional. Petrópolis, Ed. Vozes, 1992. 120p.

    11.  MIRA, M. H. N. Psicologia da Terceira Idade: Conquistas Possíveis e Rupturas Necessárias: Psicologia da Terceira Idade. Rio de Janeiro: NAU, 1995. 176 p.

    12.  MIRA, M. H. N.; PFROMM NETO, S.; SOUZA, S. J. E. ; GUZZO, R. S. L.; WECHESLER, S.; PETTE, Z. A. P.; WITTER, G. P. AS CONTRIBUIÇÕES DA UNIVERSIDADE E OS NOVOS PARADIGMAS DA CIÊNCIA, CULTURA. SUBJETIVIDADE, VI Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico - ANPEPP, Teresópolis - RJ, BRASIL, v. 001, n., pp. 74-74, Publicado (autores: NOVAES, M.H.M.; ), 1996.

    13.  MIRA, M. H. N. Psicologia de La Aptitud Creadora. Buenos Aires: Editora Kapelusz, 1996

    14.  MIRA, M. H. N. Superdotados, Desafio Constante da Sociedade. Rio de Janeiro: NAU, 1997. 176p

    15.  MIRA, M. H. N. Talento e superdotação, Departamento de Psicologia, PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil, 1997, Publicado. Rio de Janeiro: 1997. 65p.

    16.  MIRA, M. H. N. A redescoberta do eu na perda, C3Studio, Rio de Janeiro, Brasil, 1998, Publicado. 001. Ed. Rio de Janeiro: C3Studio, 1998. v. 001. 130p

    17.  MIRA, M. H. N. (Org.) Educação, cultura e potencial humano, Rio de Janeiro: Papel&Virtual, 1999. 88p

    18.  MIRA, M. H. N. Compromisso ou alienação frente ao próximo século. Rio de Janeiro: NAU Editora, 1999. 189 p

    19.  MIRA, M. H. N. Programa de Ativação Cerebral Criativa. Departamento de Psicologia. PUC-Rio: Rio de Janeiro, Brasil, 2002

    20.  MIRA, M. H. N. (Org.)  Criatividade na construção da ética solidária. Rio de Janeiro: Neam - Puc-Rio, 2003

    21.  MIRA, M. H. N. (Org.) Trocas Intergeracionais e Criatividade. Rio de Janeiro: Pós Graduação de Psicologia PUC-Rio, 2003

    22.  MIRA, M. H. N. (Org.) As gerações e lições de vida: aprender em tempo de viver. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. 144p

    23.  MIRA, M. H. N. Paradoxos Contemporâneos. Rio de Janeiro: E-papers, 2008. 154p

    24.  MIRA, M. H. N. Manual do Cuidador - Programa de Ativação Cerebral Criativa. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Rio de Janeiro, Brasil, 2009

    25.  MIRA, M. H. N. (Org.) Programa Sistêmico Integrado Global de Ativação Cerebral Criativa. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. 86p

    Autoria do verbete:

    Vera Maria Ramos de Vasconcellos éDoutora em Social Developmental Psychology pela University of Sussex, Inglaterra, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ e coordenadora do Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa e Extensão da UERJ.