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Rosa Ester Rossini (1941 -)Geógrafa
Rosa Ester Rossini nasceu no dia 09 de outubro de 1941, em Serra Azul, pequeno município do Estado de São Paulo situado na região de Ribeirão Preto. Ascendente de imigrantes italianos que vieram para trabalhar nas lavouras de café no final do século XIX, Rosa Ester Rossini, desde tenra idade, se apaixonou pela escola.Rosa Ester Rossini nasceu no dia 09 de outubro de 1941, em Serra Azul, pequeno município do Estado de São Paulo situado na região de Ribeirão Preto. Ascendente de imigrantes italianos que vieram para trabalhar nas lavouras de café no final do século XIX, Rosa Ester Rossini, desde tenra idade, se apaixonou pela escola. E o desejo de vir a ser professora se ampliou quando seus pais se tornaram servidores públicos e começaram a trabalhar no Grupo Escolar de Serra Azul. O convívio com os professores e o apoio assertivo de Dona Antonietta de Matos Guaryannas Taveiros, então Diretora do Grupo escolar de Serra Azul, marcariam decisivamente a trajetória daquela brilhante estudante.
Nos idos de 1948, o Ginásio era freqüentado apenas pelos filhos e filhas das classes mais abastadas. Dona Antonietta, porém, fizera um levantamento na pequena cidade a fim de identificar potenciais estudantes e buscou oferecer ajuda àqueles que não pudessem arcar com as despesas dos estudos para freqüentar o ginásio. Mirando-se no exemplo do irmão mais velho que ingressara no curso ginasial em São Simão, Rosa Ester, depois de concluir os estudos no Grupo Escolar de Serra Azul em 1952, sem pestanejar e antes de completar 11 anos de idade, determinada, resolveu permanecer em São Simão, nos meses de novembro e dezembro durante a semana, na casa de uma coleguinha do cursinho de admissão, a fim de se preparar para o ingresso no curso ginasial.
Naquela época, apenas alguns professores que lecionavam no Ginásio de São Simão haviam freqüentado a universidade. Um deles, que cursara Geografia na Universidade de São Paulo (USP), o professor James Noronha de Souza, exerceu enorme influência sobre Rosa Ester Rossini que decidiu, não apenas, ser professora “normalista” como também resolvera estudar para se tornar professora de Geografia. Esta ousada aspiração, fez com que levasse inúmeros “beliscões” de sua mãe, pois ela achava que era muita ousadia de Rosa Ester Rossini, filha de serventes do Grupo Escolar de Serra Azul, querer estudar mais do que os filhos e filhas das próprias professoras e, mesmo, da cidade.
Ao observar as paisagens e suas diferenciações no decorrer do trajeto que realizava, diariamente, entre Serra Azul e São Simão, Rosa Ester Rossini alimentou o desejo de compreender os processos que as constituíam. A Geografia era a ciência que respondia a muitas de suas inquietações. Assim, não hesitou em escolher cursar Geografia e passou a se preparar, com afinco, para o vestibular de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), a mais prestigiosa universidade brasileira. Enquanto estudante do Curso Normal “Otoniel Mota”, em Ribeirão Preto, Rosa Ester também se destacou como jogadora de basquete. A participação nos campeonatos estaduais garantiu-lhe uma renda mínima para se manter no decurso dos seus estudos secundários.
Em 1961, mudou-se para a cidade de São Paulo e durante a realização do vestibular para USP conheceu o Professor José Ribeiro de Araújo Filho, que depois viria a ser seu orientador de Mestrado e Doutorado naquela instituição. Tornou-se discípula e importante colaborada deste professor.
Em 1963, Rosa Ester Rossini tornou-se sócia da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) e estava completamente envolvida com a ciência geográfica. No mesmo ano passou a estagiar junto aos professores Maria Alice dos Reis Araújo e José Bueno Conti, no Instituto Geográfico e Geológico, bem como com o doutor Nelson Rodrigues, no Instituto de Medicina Tropical. E a convite de dois grandes e importantes geógrafos, a saber, Aroldo de Azevedo e Pasquale Petrone, Rosa Ester Rossini iniciou sua atividade no recém criado Instituto de Geografia como auxiliar de pesquisa no trabalho que estudava "O Abastecimento da Cidade de São Paulo em Produtos Hortifrutigranjeiros". Durante o decurso da graduação, a mesma participou exaustivamente de todas as viagens de campo e tornou-se uma estudante assaz aplicada com um único objetivo: desenvolver-se profissional e intelectualmente.
Após a conclusão do bacharelado e da licenciatura em geografia na USP (1964), Rosa Ester Rossini foi convidada pelas Cônegas de Santo Agostinho a lecionar geografia no “Sedes Sapientiae” da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Também, após receber o convite da professora Cacilda, passou a ensinar na Faculdade São Bento. E assumiu as aulas de geografia, a convite do professor Pasquale Petrone, no recém criado curso normal do Colégio “Dante Alighieri”. Entre 1970-71, foi Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais da PUC. Ainda fora aprovada em concurso público para professora no Ensino Oficial do Estado de São Paulo e classificada em primeiro lugar, em 1965.
Já nos finais da década de 1960, passou a se aprofundar sobre o fenômeno das migrações e, em 1967, mesmo como docente do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, iniciou os seus estudos na Pós-Graduação em Geografia da Universidade de São Paulo sob a orientação do Professor José Ribeiro de Araújo Filho. Conviveu e aprendeu com os grandes nomes da geografia: Pierre Monbeig, Philippe Pinchemel, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, André Libault, Michel Rochefort, Aziz Ab’Saber, Pierre George, Milton Santos entre outros.
Ingressou como Professora na Universidade de São Paulo em 1970 e concluiu em 1971 sua dissertação de mestrado intitulada “Serra Azul, o homem e a cidade”. Convém destacar que, mesmo em se tratando de um trabalho de caráter monográfico, é a primeira vez que o tema relativo aos trabalhadores volantes e migrantes fora abordado na Geografia da USP.
Em 1971, Rosa Ester Rossini foi convidada por Terezinha Fram para coordenar, na Secretaria da Educação, o projeto "Caracterização Sócio-Econômica dos Municípios do Estado de São Paulo". Sob sua coordenação, o referido projeto contou com a colaboração, na ocasião, das (os) estudantes de geografia Ana Fani Alessandri, Amélia Luiza Damiani, Tânia Bondezan, Lúcia Araújo Marques, Adalberto Leister, Nelson Bacic Olic como, igualmente, teve o apoio precioso da professora Nice Lecocq Müller.
Com base no material que fora organizado no decorrer daquele trabalho, Rosa Ester Rossini buscou construir o seu projeto de doutorado. E influenciada pelos estudos de Pierre George e Jacqueline Beajeu-Garnier, ambos da escola francesa de geografia, Elza Keller, expoente sobre os estudos de população no Brasil, e José Francisco de Camargo, Rosa Ester Rossini se tornou uma das primeiras geógrafas brasileiras a discutir os dilemas vinculados ao forte êxodo rural como, por exemplo, a concentração da população volante nas periferias urbanas.
Em 1975, obteve o título de doutora pela Universidade de São Paulo tendo defendido a tese “Contribuição ao Estudo do Êxodo Rural no Estado de São Paulo” e sob a orientação do Professor José Ribeiro de Araújo Filho. Fizeram parte da banca os professores Pasquale Petrone, Wanda Silveira Navarra, José de Souza Martins e Fernando Salgado. Ainda no final daquele ano, foi escolhida para ser homenageada em sua cidade natal (Serra Azul) e representar, em sua pessoa, todas as mulheres da cidade em virtude do Ano Internacional da Mulher e porque também fora a primeira mulher daquele município a alçar a universidade. Nesta altura, Rosa Ester Rossini já caminhava para se consolidar como uma das principais referências na área de Geografia da População. E como foi pioneira naquele campo do conhecimento, logo passou a integrar o Centro de Estudos Rurais e Urbanos (CERU) juntamente com as pesquisadoras/professoras Eva Blay, Lia Fukui, Maria Isaura Pereira de Queirós, etc.
Outra pesquisadora que a influenciou foi Maria Luiza Marcílio – pioneira nos estudos de demografia histórica no Brasil. Maria Luiza possibilitou inúmeros intercâmbios à Rosa Ester Rossini que, neste período, veio a participar, no México, da mesa redonda intitulada “Relações entre a Marcha da Ocupação do Estado de São Paulo e o Café” no prestigioso Congresso da União Internacional para o Estudo Científico da População (IUSSP).
E com apoio daquela renomada pesquisadora supracitada, Rosa Ester Rossini participou, em 1979, da criação da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) sendo tesoureira durante o biênio 1980-82. Também, neste mesmo período, assumiu a direção da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), seção São Paulo bem como participou do Conselho Diretor da AGB Nacional. Acrescida àquelas atividades, Rosa Ester Rossini conquistou, como pesquisadora, o 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desenvolvendo pesquisas relacionadas aos processos de modernização do campo e ao êxodo rural. Orienta estudantes de graduação e pós-graduação nesta temática desde 1977. Passa a participar, regularmente, de bancas examinadoras, contribuindo, sobremaneira, para formação de mestres e doutores que passaram a atuar em diferentes partes do território brasileiro e também no exterior.
Por indicação da professora Elza Keller, tornou-se membro efetiva, entre 1984-1988, da Comissão de Geografia da População da União Geográfica Internacional (UGI), instituição esta de grande prestígio e relevância na área da Geografia. Em 1982, foi responsável por promover o Encontro Regional da UGI, em São Paulo, ocasião esta em que pesquisadores de diversas partes do mundo estiveram presentes no Departamento de Geografia da USP. Convém destacar que Rosa Ester Rossini também foi pioneira na criação do grupo de trabalho, na UGI, sobre a questão de gênero, categoria de análise que até então não fazia parte do métier da Ciência Geográfica. Através da categoria trabalho, Rosa Ester Rossini encontrou, finalmente, o caminho que tornou possível a integração dos estudos de gênero no âmbito da Geografia.
Em 1988, defendeu sua tese de Livre-Docência intitulada “Geografia e Gênero: a mulher na lavoura canavieira paulista”. Os membros da banca examinadora foram o professor José Ribeiro de Araújo Filho (Presidente), Milton de Almeida Santos, Manuel Correia de Andrade, Antônio Olívio Ceron e Lêda Maria Pereira Rodrigues. Enquanto pesquisadora, Rosa Ester Rossini estabeleceu intercâmbio com inúmeros investigadores em âmbito internacional, sendo constante referência e pioneira nos estudos sobre população e gênero na geografia brasileira e internacional.
Desde 1985, participou como uma das fundadoras do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (NEMGE), liderado pela professora Eva Blay. De 1984 a 1990, foi Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana do Departamento de Geografia da USP. Neste período e, sob sua coordenação, aquele Departamento se beneficiou com a vinda de professores de grande relevância não apenas para a Geografia como também para as Ciências Humanas em geral tais como Jean P. Damais, Daniel Noin, Alain Lipietz, da França, os professores Carlos Carreras e Eugênio Garcia Zarza, da Espanha, a professora Maria Nazaré Roca, da Iugoslávia.
E mesmo após o período em que foi coordenadora, enriqueceu o Departamento de Geografia da USP ao possibilitar a vinda de professores como Maria Aparecida de Moraes (UNESP) e Ivone Gebara que ministraram curso sobre gênero; Manuel Araújo de Moçambique da Universidade Eduardo Mondlane que ensinou sobre a África Sul-saariana e Maria Beatriz Rocha-Trindade da Universidade Aberta de Lisboa que proferiu o curso sobre Migrações.
Em 1988, Rosa Ester Rossini foi indicada pelo Conselho Deliberativo do CNPq para participar como Assessora de Geografia Humana e Regional e, desde 1989, participa como membro dos Comitês Assessores como representante da Área de Ciências Humanas e Sociais do Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). Como tal, incansavelmente, tem percorrido todo o Brasil a fim de fortalecer o programa supracitado no âmbito das instituições de Ensino Superior do país como também tem colaborado com a descoberta de talentos para ciência como um todo.
Cumpre informar que graças à criação do PIBIC e de outros programas correlatos, o número de mestres e doutores em todo o país vem se ampliando, uma vez que o “aprender” científico passou a ocorrer já no decurso da graduação (e, atualmente, no Ensino secundário em alguns contextos) e o número de desistências na pós-graduação reduziu enormemente. Em 1990, através de concurso público, Rosa Ester Rossini tornou-se professora Titular do Departamento de Geografia da USP, sendo aprovada com a nota máxima (10,0). Também neste período, foi coordenadora do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental (LABOPLAN) no qual participou com os professores Milton Santos, Armem Mamigonian, Maria Adélia e Regina Sader em inúmeros estudos e pesquisas.
Por todos os seus feitos e méritos acadêmico-científicos, já em 1984, Rosa Ester Rossini recebeu homenagem da Escola Estadual Francisco de Freitas (Serra Azul) que denominou a Biblioteca da escola de “Professora Rosa Ester Rossini. E, em 2005, foi condecorada, pelo Ministério da Ciência e Tecnologia do Governo Federal, com a Ordem Nacional do Mérito Científico como Comendadora. Vale ressaltar que no Departamento de Geografia da USP, Rosa Ester Rossini é a única, até o presente momento, depois de Milton Santos, a receber tamanha honraria e foram pouquíssimos os geógrafos agraciados com tal distinção acadêmica.
Em 2011 foi homenageada, durante o “I Seminário Latino-Americano de Geografia e Gênero: Espaço, Gênero e Poder. Conectando Fronteiras” (Pré-Encontro Regional da UGI), por ter sido pioneira nos estudos de gênero na Geografia brasileira. Igualmente, em 2012, foi agraciada, pelo Instituto Histórico e Geográfico (IHG), com a medalha da Imperatriz Leopoldina por seus inúmeros contributos para as discussões de gênero. E no mesmo ano recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Rondônia.
Por fim, ainda nos dias atuais, Rosa Ester Rossini continua sendo Pesquisadora 1A do CNPq com o projeto “Geografia e Gênero: as novas e velhas dinâmicas no campo brasileiro com ênfase na expansão da cana-de-açúcar no século XXI”, é parecerista de inúmeras agências de fomento à pesquisa de todo o país, compõe o conselho editorial de dezenas de periódicos científicos e prossegue orientando estudantes de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e supervisionando pesquisadores de pós-doutorado na Universidade de São Paulo. É autora de dezenas de artigos científicos publicados em periódicos de grande impacto científico (nacional e internacional) bem como de capítulos de livros. Freqüentemente concede entrevistas para os principais meios de comunicação do país buscando elucidar os fenômenos contemporâneos relativos à população, questões de gênero, dentre outras temáticas.
Está recuperando o cerrado em sua chácara objetivando transformá-la em laboratório de pesquisa para as crianças das escolas de Serra Azul e entorno, iniciativa que já tornou pública com a doação da mesma à Escola, talvez única no mundo, que recebeu o nome de um servente, seu pai, Ramiro Rossini.
Fontes Bibliográficas:
ROSSINI, Rosa Ester. Memorial. São Paulo, 1991. 289p. Concurso para Professor Titular – Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
___________________. Do passado ao presente: O papel da mulher na construção de uma Geografia brasileira. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.4, n.11, p. 149-160, out. 2012. Disponível em: www.observatorium.ig.ufu.br/pdfs/4edicao/n11/10.pdf. Acesso em: 20 de setembro 2013.
Currículo Lattes – CNPq
Autoria do verbete:
Elisa Pinheiro de Freitas é Bacharel, Licenciada, Mestre e Doutora em Geografia pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é Professora e Pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Pós-Doutoranda no Departamento de Geografia da USP, sob a supervisão de Rosa Ester Rossini.
Colaboradores:
José Fonseca da Rocha Filho é Doutorando em Geografia Humana na Universidade de São Paulo.
Ana Elisa Rodrigues Pereira éTécnica do Laboratório de Geografia Política e Planejamento Territorial e Ambiental (LABPOLAN).