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JOHANNA DÖBEREINER (1924 - 2000)Agrônoma
Nasceu em 28 de novembro de 1924 em Aussig (nos Sudetos) na então Tchecoslováquia, onde a maioria da população era de origem alemã, filha primogênita de Paul e Margarethe Kubelka. Seu pai era químico e foi livre docente da Universidade de Praga.Nasceu em 28 de novembro de 1924 em Aussig (nos Sudetos) na então Tchecoslováquia, onde a maioria da população era de origem alemã, filha primogênita de Paul e Margarethe Kubelka. Seu pai era químico e foi livre docente da Universidade de Praga. Johanna fez a escola secundária numa escola alemã de Praga e viveu nessa cidade até o final da segunda guerra mundial. Seu pai foi preso durante a guerra (1939/45), porque ajudava os judeus a fugirem da perseguição nazista. Terminada a guerra em 1945, a família Kubelka viveu tempos difíceis devido a sua origem alemã. Quando em 1939 Hitler invadiu a Tchecoslováquia, concedeu a cidadania alemã à população dos Sudetos e isso desencadeou depois da libertação uma perseguição por parte dos tchecos àquela população. O pai de Johanna conseguir deixar Praga indo para a Alemanha, mas sua mãe foi presa em 1945 e faleceu nesse mesmo ano num campo de concentração tcheco. Johanna e seus avós paternos foram expulsos pelos tchecos para a Alemanha, chegando nesse país em julho de 1945. Seus avós faleceram nesse mesmo ano e Johannna viveu algum tempo como trabalhadora rural, até que seu pai a encontrasse. Foi então seu primeiro contato com a agronomia, pois seu pai conseguiu para ele um trabalho numa fazenda próximo de Munique, onde ela selecionava trigo para melhorar a produção.
Em 1946, seu pai e o irmão Werner emigraram da Alemanha para o Brasil. O Dr. Kubelka foi trabalhar no Departamento Nacional de Produção Mineral e foi um dos primeiros bolsistas do recém criado Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Ele desenvolveu pesquisas em tecnologias de enxofre para o carvão brasileiro e em potássio das salinas de Cabo Frio (RJ), tendo falecido em 1954.
Johanna havia permanecido na Alemanha porque, por influência do pai, em 1946 havia ingressado no curso de Agronomia na Universidade de Munique, onde se graduou em 1950. No mesmo ano casou-se com seu colega Jurgen Döbereiner e veio em seguida para o Brasil. Em 1956, se naturalizou brasileira. Teve três filhos, Maria Luisa (Marlis), Christian e Lorenz, e dez netos.
Em março de 1951, Johanna foi contratada para assistente de pesquisa do Dr. Álvaro Barcellos Fagundes, diretor do Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas do Ministério da Agricultura (SNPA), e passou a trabalhar no Laboratório de Microbiologia de Solos. O SNPA posteriormente se transformaria na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), onde ela trabalhou até o final de sua vida.
Nos anos 1970, Johanna realizou seu trabalho mais importante ao descobrir a ocorrência de uma associação entre bactérias do gênero Spirillum e as gramíneas. Essa descoberta, feita a partir da observação de que no Brasil, ao contrário do que acontecia nos países europeus de clima frio, um determinando tipo de grama crescia sem a necessidade de adubos químicos, teve um enorme impacto no meio científico e tecnológico; pela aplicação em solos tropicais, pois a presença de uma bactéria na grama fixava o nitrogênio na planta, substituindo o uso de fertilizantes químicos. Em 1964, chamada a participar da Comissão Nacional da Soja, cujo cultivo estava iniciando-se no Brasil, a Doutora Döbereiner convenceu a Comissão das vantagens da aplicação de bactérias nas raízes da planta e a escolha desse método nas plantações de soja foi decisiva para a fabulosa expansão da mesma em nosso país. Esse método reduziu os custos da soja brasileira, representando uma economia anual de 1 bilhão de dólares em fertilizantes hidrogenados para o país, aumentando o potencial agrícola do país. Da mesma maneira, Johanna aplicou esse método no cultivo da cana de açúcar e os bons resultados obtidos permitiram a implementação do programa PROALCOOL. Além disso, esse trabalho de Johanna levou o Brasil a melhorar a produção de diversas leguminosas, a um custo mais baixo e com menos poluição do meio ambiente, e valeu a ela a indicação ao prêmio Nobel da Paz em 1997. Também tornou-se a uma das cientistas brasileiras mais citada pela comunidade científica mundial e a mais citada entre as mulheres.
Ao longo de sua carreira, Johanna publicou quase 500 trabalhos e orientou dezenas de teses de mestrado e doutorado.
Em 1977, Johanna foi eleita membro efetivo da Academia Brasileira de Ciências (ABC), tendo sido eleita vice-presidente dessa instituição em 1995. Foi a primeira mulher a integrar os quadros de direção da ABC. Johanna recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais, como reconhecimento ao seu trabalho científico e seguramente teria recebido o Prêmio Nobel, para o qual foi indicada pela ABC, caso a sua pesquisa tivesse sido feita para as plantações norte-americanas. Trabalhando até os últimos dias de sua vida, faleceu em 5 de outubro de 2000. Em 12 de novembro de 2002 seus colaboradores e familiares criaram a Sociedade de Pesquisa Johanna Döbereiner para dar continuidade a suas pesquisas.
Alguns Prêmios e Distinções: Doutor Honoris Causa da Universidade da Flórida (1975); Prêmio Frederico Menezes Veiga da EMBRAPA (1976); Grau de Oficial da Ordem de Rio Branco, Ministério das Relações Exteriores do Brasil (1976); Grau de Comendador da Ordem do Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (1985); Grau de Grande Oficial da Ordem do Rio Branco Ministério das Relações Exteriores (1990); Membro da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano pelo Papa Paulo VI (1978); Membro Fundador do Third World Academy of Sciences (1981); Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1982); Prêmio Ciência da UNESCO (1989); Ordem do Mérito de Primeira Classe da República Federal da Alemanha (1989); Prêmio México de Ciência e Tecnologia (1992).
Fontes: CD-ROM “Johanna Döbereiner: 50 anos dedicados à Pesquisa em Microbiologia do Solo” Embrapa Agrobiologia, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, FAPERJ, 2003; sites http://premioclaudia.abril.com.br/1996/dobereiner.html e http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/1670.
Elaborado por Hildete Pereira de Melo e Ligia M.C.S.Rodrigues.