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Sonia Gumes Andrade (1928 - )Médica patologista
Sonia Gumes Andrade nasceu no município baiano de Caetité em 1928, em uma família letrada, com grande influência cultural na cidade. A mãe, Marieta Gumes era professora, filha de Maria Teodolina das Neves Lobão, primeira professora de Caetité a lecionar para uma classe de homens, entre os quais, encontrava-se Anísio Teixeira.Sonia Gumes Andrade nasceu no município baiano de Caetité em 1928, em uma família letrada, com grande influência cultural na cidade. A mãe, Marieta Gumes era professora, filha de Maria Teodolina das Neves Lobão, primeira professora de Caetité a lecionar para uma classe de homens, entre os quais, encontrava-se Anísio Teixeira. O pai, Huol Gumes, jornalista e funcionário público, era filho de João Antônio dos Santos Gumes, professor, escritor, e jornalista, que fundou em 1897, "A Penna", primeiro jornal do alto sertão baiano, que circulou com regularidade, com alguns períodos de interrupção, até a sua morte em 1930, vindo a ser extinto em 1943.
Filha mais velha de três irmãs (a primogênita falecera aos dois anos), Sonia se mudou para Salvador em 1941, estimulada pela avó Maria Teodolina, com quem foi morar, para prosseguir os estudos na capital. Entre 1941 e 1947, ela fez os cursos ginasial e científico no Ginásio da Bahia (atual Colégio Estadual da Bahia), e, em 1948, também motivada pela avó, ingressou na Faculdade de Medicina ¿ incorporada à Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1965 ¿, onde se diplomou em 1953.
Nesse mesmo ano, a jovem médica casou com Zilton Andrade, que conhecera durante o curso médico, e que àquela altura retornava da residência médica em patologia na Tulane Universty School of Medicine, e se tornou professor da Faculdade de Medicina da Bahia. Juntos eles tiveram seis filhos, e são casados até hoje.
Desde muito cedo em sua formação médica, Sonia se aproximou da patologia, realizando atividades discentes no Hospital das Clínicas como estagiária (1950-1951) e interna por concurso (1952-1953) na 2ª Cadeira de Clínica Médica. Ao mesmo tempo, foi atraída para o Instituto de Saúde Pública, incorporado à Fundação Gonçalo Moniz, fundada em 1950 pelo governador Otávio Mangabeira. O Instituto funcionaria simultaneamente como um laboratório central de saúde pública, e um laboratório de pesquisas biológicas, instituído este por Otávio Mangabeira Filho, que fora pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro.
Ali, Sonia, junto com Zilton ¿ que já integrava como patologista o Laboratório de Anatomia Patológica criado sob a supervisão do veterinário Paulo Dacorso Filho ¿, teve a oportunidade de frequentar, entre 1951 e 1952, o Curso de Aperfeiçoamento Técnico. Ministrado por renomados professores e pesquisadores do Rio de Janeiro e São Paulo, o Curso tinha como propósito o aprendizado e o treinamento prático de técnicas básicas de pesquisa em diversos campos: bacteriologia, micologia, helmintologia, entomologia, protozoologia, histologia e anatomia patológica.
Essa experiência levaria Sonia a se aproximar da pesquisa experimental, inicialmente como estagiária e assistente voluntária (sem remuneração), no Laboratório de Patologia, chefiado por Zilton Andrade, e em 1965, como patologista contratada, com bolsa do então Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). Nessa função permaneceu até o desaparecimento da Fundação Gonçalo Moniz em 1973, quando o seu próprio Laboratório de Chagas Experimental foi transferido para o Anexo I da Faculdade de Medicina da Bahia. Em 1980, ela ¿ junto com outros pesquisadores da Faculdade de Medicina ¿ retornaria às antigas instalações da Fundação Gonçalo Moniz, onde passou a funcionar o Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, fruto de um convenio celebrado, em 1979, entre a Fundação Oswaldo Cruz, a Universidade Federal da Bahia, e a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, cujo primeiro diretor foi Zilton Andrade.
Embora tenha adquirido uma ampla formação em patologia das doenças parasitárias ¿ situando-a na linhagem científica da medicina tropical brasileira, cujo berço foi a Escola Tropicalista Baiana ¿, Sonia Andrade se notabilizou pelos estudos em doença de Chagas experimental. Seu interesse científico nesse campo se manifestou desde o início de sua integração ao Laboratório de Patologia, onde produziu, em 1955, os primeiros trabalhos, em co-autoria com Zilton: "A patologia da doença de Chagas (forma crônica cardíaca)" e "A patogenia da miocardite crônica chagásica (a importância das lesões isquêmicas)", publicados, respectivamente, no Boletim da Fundação Gonçalo Moniz, e Arquivos Brasileiros de Medicina.
Nos anos 60, seus estudos se consolidariam em torno das diferentes cepas do Trypanosoma cruzi, resultando em trabalho original, publicado na Gazeta Médica da Bahia em 1970, em que propõe a classificação das cepas conforme os caracteres biológicos e histopatológicos do protozoário em tipos biológicos ou biodemas (Tipos I, II e III). Nas décadas seguintes, a pesquisa evoluiria no campo da patologia experimental e da imunopatologia da doença de chagas em diferentes modelos experimentais, ampliando o foco de atuação do Laboratório, transformado, em 2003, em Laboratório de Chagas Experimental, Autoimunidade e Imunologia Celular (LACEI). Desde então, reúne um grupo de pesquisadores e alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, dedicados ao desenvolvimento de projetos sobre processos patológicos e a resposta aos quimioterápicos, além de desenvolver investigações sobre a regulação do sistema imune em diferentes condições, como nas infecções e doenças autoimunes, visando o tratamento com terapias celulares em humanos com diferentes tipos de patologia.
Após uma longa experiência como pesquisadora, com estágios de pesquisa em centros e universidades estrangeiras, como Case Western Reserve University eCornel University Medical College, National Institute of Health, Sonia Andrade realizou o curso de doutorado em patologia humana na UFBA, entre 1984 e 1986, dirigindo-se em seguida para um estágio pós-doutoral no Instituto Pasteur de Lyon, onde permaneceu entre 1986 e 1987.
Paralelamente à pesquisa, Sonia se dedicou à docência desde que se formou, exercendo essa atividade na cadeira de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade de Medicina. Foi efetivada por concurso público como professora assistente em 1973. Nesse mesmo ano, foi fundado por Zilton Andrade o curso de pós-graduação em patologia humana (sediado no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz/Fiocruz em 1980), inicialmente em nível de mestrado, e, em 1989, em nível de doutorado, ao qual Sonia se integrou como docente, assumindo a coordenação entre 1975 e 1995.
Conceituada em sua área de atuação, Sonia tem 124 artigos publicados em importantes revistas nacionais e internacionais. Até 2004 foi bolsista de produtividade em pesquisa 1-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do qual foi membro de Comitê Assessor entre 1986 e 1987, e coleciona uma série de prêmios e títulos científicos: o Prêmio e Medalha Samuel Pessoa da Sociedade Brasileira de Patologia (1987); Medalha do Centenário do Instituto Oswaldo Cruz (2000); diploma de Honra ao Mérito pelos inestimáveis serviços prestados a saúde pública e ao desenvolvimento da ciência da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia (2008); medalha do Centenário da descoberta da Doença de Chagas (2009); professor emérito da Universidade Federal da Bahia (2011); pesquisadora emérita da Fiocruz (2012).
Ela também integra várias associações científicas nacionais: sócia emérita da Sociedade Brasileira de Patologia (2013); Academia de Medicina da Bahia (1998); Sociedade Brasileira de Medicina Tropical;Sociedade Brasileira de Parasitologia;
Sonia Andrade se aposentou como professora adjunta da Universidade Federal da Bahia em 1995, e no ano seguinte como pesquisadora titular do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, onde até os dias atuais permanece trabalhando em seu laboratório.
Fontes:
Andrade, Sonia Gumes. Evolução dos estudos experimentais aplicados à área médica na Bahia. Gazeta Médica da Bahia, 77:2 (jul-dez), p.245-254, 2007
_____. Sonia Gumes Andrade. Depoimento, 2014. Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Apoio CNPq.
_____. Memória dos 20 anos do curso de pós-graduação (mestrado) em patologia humana. Mimeo. s/d.
Moura, Mariluce; Bandeira, Cláudio. Um cientista tranquilo. Entrevista Zilton de Araújo Andrade. Bahiaciência, maio/junho 2014, ed. nº1, p. 8-15
Autoria do verbete:
Nara Azevedo é doutora em Sociologia, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências /Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz.