- Sex, 03 Mai 2013 14:12:00 -0300
Pesquisa aponta evolução do vírus da dengue com maior potencial de risco
Com objetivo de mapear a diversidade filogenética e filogeográfica do vírus, ou seja, o caminho histórico evolutivo do sorotipo 2 do vírus da dengue (DENV-2), trilhado em diferentes regiões do Brasil, pesquisadores realizaram o sequenciamento completo de 12 amostras de pacientes atendidos em São José do Rio Preto (SP), durante a epidemia de 2008. Os dados foram comparados com amostras de bancos de dados genéticos da dengue do Brasil e do mundo.
O trabalho foi coordenado por Mauricio Lacerda Nogueira, do Laboratório de Pesquisas em Virologia da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), realizado em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, com financiamento do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Dengue, FAPESP e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e apoio da Secretaria de Saúde de São José do Rio Preto.
A pesquisa publicada na revista PLoS One foi concentrada no DENV-2, uma das quatro espécies transmitidas ao homem pelo mosquito Aedes aegypti . Os resultados revelaram a circulação simultânea de diferentes linhagens de DENV-2 no país, o que pode estar associado ao número elevado de surtos epidêmicos e de manifestações graves da doença quando comparado aos outros três sorotipos da dengue. A existência da maior variabilidade genética entre o DENV-2 também pode estar atrelada como causa do insucesso em testes com vacinas.
“Fizemos um estudo semelhante com o DENV-1, publicado em 2012 na revista Archives of Virology, no qual mostramos que, quando uma nova linhagem do vírus emergia, a anterior desaparecia completamente. Mas no caso do DENV-2, existem períodos em que há dois clados diferentes circulando ao mesmo tempo no país, o que torna esse vírus mais perigoso. A maior variabilidade genética favorece epidemias”, explica Nogueira.
O pesquisador afirma que o DENV-2 é, há pelo menos dez anos, uma presença constante no interior de São Paulo, enquanto os demais sorotipos causam epidemias em anos específicos e desaparecem por longos períodos. “Ao analisar os dados do Ministério da Saúde é possível detectar dengue do tipo 2 todos os anos no Brasil e em diferentes regiões”, disse.
Mapeamento - O pesquisador explica que existem seis diferentes genótipos do DENV-2. O Americano/Asiático, que teria migrado do Vietnã via Cuba, predomina hoje em todo continente americano. As três diferentes linhagens de DENV-2 analisadas no estudo foram chamadas pelos pesquisadores de BR1, BR2 e BR3. Diferem geneticamente entre si por 37 alterações de aminoácidos. Essas variações, segundo Nogueira, são oriundas da região do genoma do vírus que mais interage com o sistema imunológico humano.
“Dentro de cada uma das quatro espécies de vírus causadoras da dengue existem diferentes genótipos. Dentro de cada genótipo ainda há variações genéticas que chamamos de clados ou linhagens. Nossos dados mostram que três diferentes linhagens de DENV-2 entraram no Brasil nos últimos 30 anos e todas elas pertencem ao genótipo Americano/Asiático”, disse Nogueira.
Os resultados divulgados na PLos One indicam que a primeira introdução do genótipo Americano/Asiático teria ocorrido entre 1988 e 1989, possivelmente no Rio de Janeiro. Essa linhagem, batizada de BR1, teria circulado continuamente em diferentes regiões do país por pelo menos 14 anos.
Entre 1998 e 2000 teria ocorrido a introdução da linhagem BR2, mais restrita à região Nordeste do país. Paralelamente, em 1999, o BR3 teria aparecido no Sudeste e, em 2001, na região Norte, causando grandes epidemias no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 2007 e 2008, superando as outras duas linhagens em termos de número de casos e de manifestações graves.
Nogueira lembra que há alguns anos, o consenso entre especialistas era de que uma vez afetado por um sorotipo da dengue, o indivíduo ficaria imune àquela espécie do vírus, mesmo sendo infectado por diferentes genótipos e linhagens. Mas estudos recentes têm levantado novos questionamentos entre os cientistas.
Novos estudos - Em artigo publicado na The Lancet em 2012, pesquisadores do laboratório Sanofi Pasteur reportaram o sucesso apenas parcial, da vacina tetravalente contra a dengue testada em 4 mil crianças com idades entre 4 e 11 anos na Tailândia. Entre os sorotipos DENV-1, DENV-3 e DENV-4, a taxa de eficiência ficou entre 60% e 90%. Já o sorotipo DENV-2 resistiu praticamente a todos os efeitos da vacina. Uma das razões apontadas no estudo seria a diferença entre os clados circulantes na população da Tailândia e os utilizados para produzir o imunizante.
Outros testes com a vacina da Sanofi estão em andamento em dez países da Ásia e da América Latina, entre eles o Brasil, com 31 mil crianças e adolescentes. “Não sabemos se os resultados brasileiros serão parecidos com os da Tailândia. Pode ser, por exemplo, que aqui a vacina funcione contra o DENV-2 e não funcione contra o DENV-4. Precisamos de mais estudos para entender a evolução dos quatro sorotipos, as variações de linhagem e o quanto isso importa em termos de resposta imune, do número de casos e da gravidade da doença”, afirmou Nogueira.
Para o pesquisador, no entanto, o mais provável é que os resultados apontem para a necessidade de desenvolver vacinas específicas para cada país e, possivelmente, até para cada região. “Temos de conhecer exatamente qual tipo de vírus está circulando em um local para saber o tipo de vacina que precisamos. Assim como não é possível fazer uma vacina genérica contra a gripe, talvez tenhamos que fazer vacinas diferentes contra a dengue. Mas precisamos de mais dados dos ensaios em andamento para saber ao certo”, ponderou.
Epidemia - Nogueira também coordena, com apoio da FAPESP e da prefeitura de São José do Rio Preto, um projeto de vigilância em tempo real da dengue para acompanhar o que ocorre no município, que atualmente enfrenta uma forte epidemia. “Já foram registrados mais de oito mil casos somente em 2013 e nossos dados indicam que mais de 90% correspondem ao DENV-4, que aparentemente é menos agressivo. O número de casos graves não está sendo grande”, contou.
Entre 2009 e 2010, a região enfrentou uma epidemia de DENV-1 com mais de 20 mil casos. “Com epidemias tão próximas causadas por diferentes vírus e a presença constante do DENV-2, o risco da população sofrer infecções repetidas aumenta, o que eleva também o risco de manifestações graves”, alertou o pesquisador.
O artigo Circulation of Different Lineages of Dengue Virus 2, Genotype American/Asian in Brazil: Dynamics and Molecular and Phylogenetic Characterization (doi: 10.1371/journal.pone.0059422) pode ser lido em www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0059422
Coordenação de Comunicação Social
(Com informações da Agência Fapesp)
Navegue pelo mapa do Portal
- Geral
- Acesso à Informação
- Institucional
- Organograma
- Competências
- Base Jurídica
- Conselho Deliberativo
- Agenda de autoridades
- Diretoria Executiva
- Comitês de Assessoramento
- Comissão de Integridade
- Quem é quem
- Propriedade Intelectual
- Normas
- Comissão de Ética Pública
- Gestão de Documentos
- História
- Servidores
- Estatísticas e Indicadores
- Horário de atendimento
- Organograma
- Bolsas e Auxílios
- Programas
- Prêmios
- Popularização da Ciência
- Comunicação
- Parcerias
- Estudantes
- Pesquisadores
- Universidades
- Empresas