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Virgínia Leone Bicudo (1910-2003)Socióloga, Psicóloga e Psicanalista
Nasceu em São Paulo (SP) em 1910 e morreu em 2003, aos 92 anos. Filha da trabalhadora e imigrante italiana Joana Leone e do trabalhador negro Teófilo Bicudo, Virgínia Bicudo estudou na Escola Modelo Caetano de Campos no bairro da Luz na cidade de São Paulo. A mãe, Joana Leone Bicudo, foi babá da filha de criação do coronel e senador Bento Augusto de Almeida Bicudo, que por sua vez era padrinho do pai de Virgínia, Teófilo Bicudo...Nasceu em São Paulo (SP) em 1910 e morreu em 2003, aos 92 anos. Filha da trabalhadora e imigrante italiana Joana Leone e do trabalhador negroTeófilo Bicudo, Virgínia Bicudo estudou na Escola Modelo Caetano de Campos no bairro da Luz na cidade de São Paulo. A mãe, Joana Leone Bicudo, foi babá da filha de criação do coronel e senador Bento Augusto de Almeida Bicudo, que por sua vez era padrinho do pai de Virgínia, Teófilo Bicudo. Em São Paulo, o pai, com o apoio do coronel Bicudo, tornou-se funcionário dos Correios e Telégrafos e depois ascendeu na instituição até chegar a diretor de uma agência paulistana.
Assim como as três irmãs, Virginia fez o curso normal, mas não chegou a ser professora, pois o pai não permitiu que fosse para o interior do Estado trabalhar em condições consideradas precárias naquele tempo. A escolha consistiu em fazer o curso de educação sanitária no Instituto de Higiene de São Paulo em 1932.
Sobre o paí, Virgínia destaca o papel fundamental na educação de todos os seis irmãos e irmãs. Também lembra o perfil ambiciosoe corajoso ao enfrentar as dificuldades decorrentes da discriminação racial. Por exemplo, o projeto do pai de fazer um curso superior, no caso medicina, e suas tentativas durante dez anos até a desistência final para cuidar da família.
Da mesma forma, lembra que os contatos com a família do pai praticamente não existiram visto que todos os tios paternos morreram cedo. Com a família da mãe, conviveu durante toda a infância e adolescência. Em entrevista ao pesquisador Marcos Chor Maio em 1995, Virgínia ressalta que seu convívio com os negros foi pequeno nesse período.
Após o curso de educação sanitária, Virgínia tornou-se funcionária da Diretoria do Serviço de Saúde Escolar do Departamento de Educação, onde tinha como atribuição dar aulas de higiene em escolas do Estado de São Paulo. A partir dessa experiência, Virgínia se interessou pela sociologia e iniciou o curso de ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política em 1936. Pouco depois, em 1939, teve contato com a psicanalista alemã Adelheid Koch, que veio para o Brasil com o início da 2ª Guerra Mundial. Naturalizada brasileira, Koch motivará em Virgínia o interesse pela psicanálise, depois ampliado pela formação e contato com o médico e professor Durval Marcondes. No início da década de 1940, Bicudo e Marcondes começaram uma parceria na Escola Livre de Sociologia e Política, com a oferta das disciplinas higiene mental e psicanálise, que se transformou em importante ferramenta na difusão da psicanálise no Brasil nas décadas seguintes.
Em 1942, Virgínia iniciou o mestrado, sob a orientação de Donald Pierson, na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Lá teve a oportunidade de articular seus interesses pela sociologia e pela psicanálise ao estudar a questão racial e os conflitos raciais existentes entre brancos e negros. Sua dissertação de mestrado, intituladaAtitudes Raciais de pretos e mulatos em São Paulo, foi a primeira defendida no Brasil sobre a temática, tendo, ao contrário do seu orientador Donald Pierson, compreendido que o preconceito racial é uma variável relevante na organização e produção social. De forma inovadora, com articulação entre a antropologia, a sociologia e a psicologia social, Vírgínia investigou as atitudes raciais e sociais de grupos de pais e mães de estudantes de escolas públicas em bairros populares e de classe média paulistana, por meio de entrevistas e estudos de caso.
Em 1945, tornou-se professora-assistente da cadeira de higiene mental da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Ainda sobre a questão racial, em 1949, Virgínia foi convidada para integrar a equipe do Projeto Unesco em São Paulo. A Unesco realizou no início da década de 1950 diversas pesquisas sobre as relações raciais, com a estruturação de uma equipe de pesquisadores e professores de várias universidades. Em São Paulo, o Projeto Unesco foi coordenado por Roger Bastide e Florestan Fernandes. Virginia deu continuidade aos interesses do mestrado com uma pesquisa sobre atitudes raciais entre estudantes das escolas públicas no município de São Paulo e membros da comunidade escolar.
Assim como a sociologia, a psicanálise permanecia no centro dos interesses de Virgínia Bicudo. Em 1954, Virgínia e outros colegas foram contratados pelo Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Pouco depois, em 1955, Virgínia iniciou uma temporada de estudos psicanáliticos em Londres, onde permaneceu até 1959. Nesse período, conforme entrevista concedida, frequentou o Instituto de Psicanálise da Sociedade Britânica, teve contato com psicanalistas reconhecidos como Melanie Klein, Wilfred Bion e Donald Winnicott e se especializou no tratamento de crianças. Nas décadas seguintes, Virgínia Bicudo continuou com o trabalho de divulgação e institucionalização da psicanálise no Brasil. Publicou em 1956 o livro Nosso mundo mental, fruto de um programa semanal de rádio. Em 1970, criou o Grupo Psicanalítico de Brasília, foi professora na Universidade de Brasília (UnB) e um pouco depois fundou o Instituto de Psicanálise de Brasília.
Psicanalista e socióloga reconhecida, Virgínia Leone Bicudo tornou-se uma referência nos estudos raciais e também por ser a primeira pesquisadora e professora negra a ocupar um lugar de destaque na divulgação e construção da psicanálise no Brasil.
Fontes: MAIO, Marcos Chor. Educação sanitária, estudos de atitudes raciais e psicanálise na trajetória de Virgínia Leone Bicudo. Cadernos Pagus (35), julho-dezembro de 2010: 309-355 e verbete Virgínia Bicudo, disponível na página www.cliopsyche.uerj.br, em 27 de março de 2013.
Autoria:
Maria Lúcia de Santana Braga é doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e analista em ciência e tecnologia do CNPq.
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