-
Aída Hassón-Voloch (1922-2007)Química
Carioca do bairro da Tijuca, nascida em 1922, e proveniente de uma família de imigrantes judeus socialmente bem posicionada, Aída Hassón-Voloch realizou o secundário em uma escola privada inglesa, o colégio Aldridge, onde, sob a influência do professor de química, passou a se interessar por esse campo de conhecimento.Carioca do bairro da Tijuca, nascida em 1922, e proveniente de uma família de imigrantes judeus socialmente bem posicionada, Aída Hassón-Voloch realizou o secundário em uma escola privada inglesa, o colégio Aldridge, onde, sob a influência do professor de química, passou a se interessar por esse campo de conhecimento. Estimulada pelo pai a prosseguir sua educação em nível superior, ela ingressou na Escola Nacional de Química (ENQ) em 1941, onde se formou em 1944, com a aspiração de se tornar química industrial.
As restritas oportunidades de trabalho para os químicos industriais, na época, a levariam, após a formatura, a realizar estágios não remunerados. Primeiro, no laboratório de Produção Mineral (LPM), pertencente ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), chefiado por Fritz Feigl (1891-1971), químico suíço que emigrou para o Brasil em 1940, e é reconhecido como um dos expoentes da química analítica do século XX. Em seguida, conseguiu estágio no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), na Divisão de Química Orgânica, onde permaneceu por um curto período após se desinteressar pelo trabalho que ali era executado.
As expectativas profissionais da jovem química seriam modificadas e seu destino profissional alterado a partir de um encontro fortuito, em 1947, com Carlos Chagas Filho em um navio em que viajavam de regresso da Europa para o Brasil. Ele era conhecido de seu pai, e a convidou para um estágio no Instituto de Biofísica, recém-criado na Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O que seria um estágio temporário sem remuneração, se transformou em um projeto profissional de toda a vida. Ali a jovem química se transformou em pesquisadora e professora de biofísica, realizando uma carreira científica bem-sucedida.
Inicialmente, ela trabalhou como auxiliar de pesquisa de Tito Leme Lopes, que preparava sua tese para o concurso à cátedra de física aplicada à farmácia, da Faculdade de Farmácia. Em seguida, se integrou ao laboratório de eletroforese, dirigido por José Moura Gonçalves, bioquímico mineiro que trabalhara com José Baeta Viana na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, e que retornara de viagem de estudos aos Estados Unidos no final de 1947. Com ele Aída aprendeu a técnica de eletroforese – sendo Moura Gonçalves reconhecido como seu introdutor no Brasil -, e escreveu o primeiro trabalho de cromatografia em papel em 1950.
Em 1952, ela partiu para um período de estudos na Europa. Primeiro, frequentou por um curto período, com bolsa do CNPq, o laboratório de bioquímica de Roger Acher da Faculdade de Ciências da Universidade de Paris. Em seguida, se dirigiu ao Departamento de Bioquímica da Universidade de Cambridge, onde, com bolsa do British Council,permaneceu durante um ano junto à equipe de Fred Sanger, laureado com o Prêmio Nobel de Química em duas ocasiões: em 1958, por seu trabalho sobre a estrutura das proteínas, especialmente a insulina, e em 1980, quando dividiu a premiação com Paul Berg e Walter Gilbert, pela contribuição à determinação das seqüências de base do ácido nucléico.
Ao retornar ao Brasil, em 1953, substituiu Moura Gonçalves – que havia se transferido para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – na chefia do laboratório de eletroforese, e começou a buscar uma linha própria de pesquisa. Depois de um período em que trabalhou para solucionar um problema de dopping de cavalos no Jockey Club Brasileiro, utilizando pioneiramente para tanto a técnica de cromatografia de papel, ela definiu a área de pesquisa em que atuou durante sua vida profissional: o peixe elétrico. Em 1956, a convite de Carlos Chagas Filho, Aída começou com o estudo do isolamento do receptor nicotínico da acetilcolina (um neuro-transmissor), utilizando o peixe elétrico como modelo animal. Trabalhando nesse tema, e em outros aspectos biofísicos e bioquímicos da transmissão neuromuscular, ela publicou mais de 60 artigos em uma dezena de revistas de circulação internacional, relacionadas às suas áreas de atuação: química de macromoléculas, biofísica molecular, metabolismo, bioenergética e enzimologia.
Essas especialidades foram também as da atividade docente, que iniciou em 1952, ministrando cursos oferecidos pelo Instituto de Biofisica a diversas faculdades da Universidade do Brasil. Começou a dar aulas na pós-graduação do Instituto de Biofísica desde sua criação em 1962, onde orientou dissertações de mestrado e teses de doutorado até depois da aposentadoria em 1994. Até 1972 coordenou nessa pós-graduação o curso de Métodos Biofísicos de Análise, e posteriormente, os cursos de Biofísica-Química de Macromoléculas, e o de Avaliação de Peso Molecular de Proteínas. Entre 1972 a 1992, ministrou aulas de biofísica molecular na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entre o final dos anos 1950 e a década seguinte, Aída completaria sua formação acadêmica. Primeiro, realizando estágios de aperfeiçoamento profissional. Em 1958, com auxílio de uma bolsa de estudos da Fulbright Foundation, esteve no departamento de bioquímica da New York University, chefiado por Severo Ochoa, bioquímico espanhol naturalizado norte-americano, que com o bioquímico Arthur Kornberg, dividiu o prêmio Nobelde Fisiologia e Medicina em 1959, pelas descobertas respectivas dos mecanismos de síntese biológica dos ácidos ribonucleico (Rna) e desoxirribonucleico (Dna). Logo a seguir, em 1960, com bolsa do CNPq, foi a Paris para trabalhar no laboratório de René Wurmser, no Institut de Biologie Phisico-Chimique. O doutorado seria realizado no próprio Instituto de Biofísica, ingressando, em 1962. Antes de finalizar o curso, ela se casou com o empresário Jacob Voloch em 1964, sem ter tido filhos. Aída conquistaria o título de doutora em ciências (biofisica) em 1969, com a tese “Compostos do amônio quaternário e macromoléculas do órgão elétrico - medidas de interação”. Nesse mesmo ano, tornou-se professora adjunta do Instituto de Biofisica, e a convite de Jeannine Yon-Kahn, chefe do laboratório de enzimologia físico-quimica e molecular da Université Paris-Sud, Orsay, e com um auxílio da Délégation Générale à la Recherche Scientifique, fez pós-doutorado em Biofísica de Processos e Sistemas.
Às atividades de pesquisa e ensino, Aída Hassón-Voloch somou as de administração científica. Entre 1953 e 1965, chefiou o laboratório de eletroforese, permanecendo à sua frente no período 1969-1992, quando este foi sucedido pelo laboratório de físico-química biológica. Ocupou também a chefia do departamento de Biofísica Molecular entre 1973 e 1978.
Conceituada em sua área de atuação, sobretudo por suas pesquisas em peixe-elétrico, ela foi bolsista 1-A do CNPq de 1976 até a aposentadoria (1994). Membro associado da Academia Brasileira de Ciências em 1960, e membro titular em 1992, foi condecorada com a Ordem Nacional do Mérito Científico, no grau Comendador, em 2000.
Participou das atividades da Sociedade Brasileira de Biofísica (SBBf) a partir de 1976, tendo sido membro do Conselho Consultivo em diferentes períodos e presidente entre 1992 a 1994. Nesse período participou também da diretoria da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE).
Sócia emérita da Associação Brasileira de Química (1981), e presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica (1992-1994), Aída foi membro de várias associações científicas nacionais - Associação Brasileira de Quimica, Sociedade Brasileira de Bioquimica, Sociedade Brasileira de Neurociência –, e estrangeiras - Biophysical Society, American Chemical Society, Societé Française de Biochimie et Biologie Moleculaire, American Association for the Advancement of Science, New York Academy of Science.
Em sua homenagem, em 1999, seu nome foi atribuído ao laboratório de físico-química biológica. Aída Hassón-Voloch faleceu em 2007.
Obras/Publicações:
- Hassón-Voloch, A; Gonçalves, J.M. Análise Cromatográfica dos Ácidos Aminados da Crotoxina. Ciência e Cultura — SBPC. Brasil, São Paulo, vol.2, nº 1, 1950, pp.54-56
-Chagas, C., Sollero, L. and Hassón-Voloch, A. Etude par analyse Chromatro Graphique de L´elimination des stimulants du systeme nerveaux. Paris : Sedex Editeur. Hommenage au Doyen R. Fabre, 1956
-Hassón-Voloch, A. and Liepin, L. L. Reversible inhibition of electric organ cholinesterase by curare and curare-like agents. Biochimica et Biophysica Acta. vol. 75 , 1963, p. 397 - 401
-Hasson-Voloch, A. Curare and acetylcholine receptor substance. Nature. vol. 218 , 1968, p. 330 - 333
-Somlò, C., de Souza Machado, R. D. and Hassón-Voloch, A. Biochemical and cytochemical localization of ATPases on the membranes of the electrocyte of Electrophorus electricus (L.). Cell and Tissue Research. vol. 202 , 1977 , p. 175 - 282
-Quintana, E. G. , Somlò, S. and Hassón-Voloch, A. Modification of electrocyte membrane lipid composition induced by denervation. Brazilian Journal of Medical and Biological Research. vol. 21 , 1988 , p. 1163 - 1171
-Hassón-Voloch, A. Denervation alters protein-lipid interactions in membrane fraction from electrocytes ofElectrophorus electricus (L). Biophysical Chemistry. vol. 91 , 2001 , p. 93 - 104
Fontes
Azevedo, N. ; Cortes, B. A.Ferreira,, L.O.; Sa, M. Gênero e ciência: a carreira científica de Aída Hassón-Voloch. Cad. Pagu [online]. 2004, n.23, pp. 355-387.
Aída Hassón-Voloch. Verbete biográfico. Disponível em: http://www.abc.org.br/~aida. Acesso 18/12/2013
Laboratório de Físico-Química Biológica Aída Hassón-Voloch. Instituto de Biofísica. Disponível em: http://www.biof.ufrj.br/pesquisa/fisiobiof/lfqb/. Acesso 18/12/2013
Autoria:
Nara Azevedo é doutora em Sociologia, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências /Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz.
Navegue pelo mapa do Portal
- Geral
- Acesso à Informação
- Institucional
- Organograma
- Competências
- Base Jurídica
- Conselho Deliberativo
- Agenda de autoridades
- Diretoria Executiva
- Comitês de Assessoramento
- Comissão de Integridade
- Quem é quem
- Propriedade Intelectual
- Normas
- Comissão de Ética Pública
- Gestão de Documentos
- História
- Servidores
- Estatísticas e Indicadores
- Horário de atendimento
- Organograma
- Bolsas e Auxílios
- Programas
- Prêmios
- Popularização da Ciência
- Comunicação
- Parcerias
- Estudantes
- Pesquisadores
- Universidades
- Empresas