-
Therezinha Lins de Albuquerque (1926 -)Psicóloga
Nascida em Recife, em 1926, Albuquerque teve seu primeiro contato com a Psicologia ainda na década de 1940, durante sua formação em Pedagogia, concluída em 1949, na primeira turma da Faculdade de Filosofia de Recife.Nascida em Recife, em 1926, Albuquerque teve seu primeiro contato com a Psicologia ainda na década de 1940, durante sua formação em Pedagogia, concluída em 1949, na primeira turma da Faculdade de Filosofia de Recife. Entretanto, sua inserção efetiva na Psicologia ocorreu após de sua mudança para o Rio de Janeiro em 1951: naquela ocasião, Ulisses Lins de Albuquerque, seu pai, fora eleito deputado federal pelo estado de Pernambuco e a família o acompanhou na vinda para a então capital federal.
Recém-graduada em Pedagogia, Albuquerque (2003) relata que estava decepcionada com a área da educação, julgando que esta não apresentava um dinamismo e um contato mais profundo com as questões humanas. Em 1952, já no Rio de Janeiro, foi apresentada a Elisa Dias Velloso (1914- 2002), então diretora do Centro de Orientação Juvenil (COJ), uma clínica pública de orientação psicológica a jovens e crianças, a primeira da América Latina no modelo das child guidance clinics norte-americanas. A criação do COJ esteve a cargo de Helena Antipoff e Emilio Mira y López, dois dos personagens de maior destaque na constituição da Psicologia no Brasil.
Albuquerque é convidada a realizar um estágio profissional em Psicologia no COJ e logo é efetivada na equipe. Realizava psicodiagnóstico (testes de personalidade, inteligência e aptidões específicas) e a chamada “orientação vital”, nos casos cuja demanda era marcadamente psicológica: casos de desajustamento emocional, familiar, escolar, orientação profissional e que não envolvessem questões psiquiátricas (Degani-Carneiro, Messias & Jacó-Vilela, 2007).
Por meio de estudos teóricos de técnicas psicoterápicas e principalmente do contato com profissionais estrangeiros, como a estadunidense Reba Campbell, o COJ foi progressivamente se deslocando de um perfil estritamente psicodiagnóstico, que caracterizava a Psicologia brasileira à época, passando a realizar atendimentos psicoterápicos, inicialmente na abordagem rogeriana (Degani-Carneiro, 2010). Além dos atendimentos, o COJ era um dos poucos locais disponíveis para formação prática em orientação psicológica e psicoterapia, recebendo estagiários de diversos lugares do Brasil, tanto profissionais quanto graduandos (após a criação do curso da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1953 – o primeiro do Brasil).
Tais fatos evidenciam o pioneirismo do COJ na psicologia clínica, ainda na década de 1950, anteriormente à regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil (1962) e em um momento, no qual setores da psiquiatria e as sociedades de psicanálise faziam fortes pressões no sentido de resguardar a psicoterapia como atividade privativa dos médicos (Degani-Carneiro & Jacó-Vilela, 2012). Após a saída de Velloso, Albuquerque dirigiu o COJ de 1968 até sua saída em 1977.
Albuquerque atuou simultaneamente em outra instituição federal, o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), órgão do Ministério da Educação, através do qual organizou e dirigiu, entre 1955 e 1967, o Serviço de Orientação Psicopedagógica (SOPP), um gabinete de psicologia na Escola Guatemala, no Rio de Janeiro (Albuquerque & Dupret, 2009). Esta era uma escola experimental, fundada por Anísio Teixeira, segundo os moldes da Escola Nova, baseada nos princípios de Dewey e de Claparède e na qual era importante, portanto, a individualização do aluno. Daí decorre a importância da Psicologia nesta escola (Oliveira, Degani-Carneiro & Messias, 2011).
A atuação de Albuquerque no contexto do SOPP guardava muitas semelhanças com a perspectiva do COJ, com o diferencial da inserção no ambiente escolar. Inicialmente, consistia na aplicação de testes psicológicos nos alunos. Com a constatação da ineficiência dessa aplicação, o SOPP iniciou um trabalho junto às professoras, visando capacitá-las a utilizar os dados dos testes junto aos de sua experiência em sala de aula (e não sobrepondo-os a esta). A experiência do SOPP é considerada inovadora na área da psicologia escolar pela visão crítica que trouxe em relação aos testes e à adoção de um perfil mais aproximado da psicopedagogia. Tanto na clínica quanto na escola, o trabalho de Albuquerque se destaca por serem os primeiros passos na direção de uma atuação psicoterápica pelos psicólogos.
Albuquerque também foi relevante no processo de constituição dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia no Brasil – órgãos de fiscalização técnica e ética do exercício profissional dos psicólogos. Foi a primeira presidente do Conselho Regional do Rio de Janeiro (1977-1979) e vice-presidente do Conselho Federal (1980-1982). Além disto, foi uma das fundadoras da Associação de Profissionais Psicólogos do Estado do Rio de Janeiro, que depois se transformou no Sindicato dos Psicólogos do Rio de Janeiro (Esch, Lima & Rezende, 2001).
A trajetória pessoal e profissional de Albuquerque permite observar a relevância da participação feminina na emergência e autonomização da profissão de psicólogo no Brasil, ainda que essa participação nem sempre seja contemplada pela historiografia tradicional. Embora esta contemple a presença dos homens que foram os catedráticos e/ou fizeram parte das comissões para discussão dos projetos de Lei sobre a regulamentação da profissão, foram sem dúvida as mulheres que, nas décadas de 1940 a 1960, com sua presença majoritária nos diversos cursos de curta duração voltados à formação teórica e técnica em psicologia existentes à época, nos movimentos em prol da regulamentação da profissão e dos cursos de psicologia no Brasil, nas associações recém-criadas, nos recém-fundados Conselhos, como professoras nos novos cursos de graduação.
Enfim, sem dúvida, foram as mulheres que construíram a nova profissão. Therezinha é um exemplo dessa geração a que devemos nosso respeito.
*Uma versão inicial desta biografia foi publicada em língua inglesa na seção “Heritage” do boletim da Society for The Psychology of Women / American Psychological Association (APA). Disponível em http://www.apadivisions.org/division-35/about/heritage/therezinha-dealbuquerque-biography.aspx
Fontes:
Albuquerque, T. L. (2003). Depoimento. In Jacó-Vilela, A. M., Cerezzo, A. C., Rodrigues, H. B. C. (Orgs), Clio-Psyché Paradigmas – Historiografia, psicologia, subjetividades. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.
Albuquerque, T. L & Dupret, L. (2009) Encontros no Caminhar da Psicologia educacional no Brasil. (2009). Rio de Janeiro: Letra Capital.
Degani-Carneiro, F. (2010). A infante ciência e seus infantes: o cuidado com a infância e a autonomização da Psicologia no Brasil nas décadas de 1930-1960. Monografia de graduação em Psicologia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Degani-Carneiro, F. & Jacó-Vilela, A. M. (2012). O cuidado com a infância e sua importância para a constituição da Psicologia no Brasil. Revista Interamericana de Psicologia. 46(1), 159-170.
Degani-Carneiro, F., Jacó-Vilela, A. M., Messias, M. C. N. (2007). Autonomização da Psicologia no Rio de Janeiro: o Centro de Orientação Juvenil (COJ). In Associação Brasileira de Psicologia Social (Org.), Anais de Trabalhos Completos do 14º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia Social. Rio de Janeiro.
Esch, C. F., Lima, S. C. C., Rezende, M. S. (2001). Albuquerque, Therezinha Lins de. In Campos, R. H. F. (Org.), Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro/Brasília: Imago, CFP.
Oliveira, F. M., Degani-Carneiro, F., & Messias, M. C. N. (2011). Serviço de Orientação Psicopedagógica (SOPP). In Jacó-Vilela, A. M. (Org.), Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro/Brasília: Imago/CFP.
Autoria:
Ana Maria Jacó-Vilela é pesquisadora em história da psicologia no Brasil, coordenando o Núcleo Clio-Psyché, de pesquisas em História da Psicologia; bolsista de produtividade do CNPq, cientista do nosso estado da Faperj, Procientista da UERJ. Professora do curso de graduação e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Uerj, que atualmente coordena. Membro da Mesa Diretora da Sociedade Interamericana de Psicologia. Coordenadora de Rede Iberoamericana de Pesquisadores em História da Psicologia.
Filipe Degani Carneiro é doutorando em Psicologia Social pelo Programa de Psicologia Social da UERJ.
Maria Cláudia Novaes Messias é mestre em Psicologia Social pela UERJ
Navegue pelo mapa do Portal
- Geral
- Acesso à Informação
- Institucional
- Organograma
- Competências
- Base Jurídica
- Conselho Deliberativo
- Agenda de autoridades
- Diretoria Executiva
- Comitês de Assessoramento
- Comissão de Integridade
- Quem é quem
- Propriedade Intelectual
- Normas
- Comissão de Ética Pública
- Gestão de Documentos
- História
- Servidores
- Estatísticas e Indicadores
- Horário de atendimento
- Organograma
- Bolsas e Auxílios
- Programas
- Prêmios
- Popularização da Ciência
- Comunicação
- Parcerias
- Estudantes
- Pesquisadores
- Universidades
- Empresas