-
Annita de Castilho e Marcondes Cabral (1911 - 1991)Psicóloga
Nasceu em 11 de julho de 1911 na cidade de Novo Horizonte, interior de São Paulo. Aos seis anos de idade, aproximadamente, foi morar na capital onde iniciou os seus estudos. Em meados da década de 1920, fez o curso normal no Instituto de Educação Caetano de Campos, onde foi aluna de Manuel B. Lourenço Filho.Nasceu em 11 de julho de 1911 na cidade de Novo Horizonte, interior de São Paulo. Aos seis anos de idade, aproximadamente, foi morar na capital onde iniciou os seus estudos. Em meados da década de 1920, fez o curso normal no Instituto de Educação Caetano de Campos, onde foi aluna de Manuel B. Lourenço Filho. Já professora normalista, trabalhou com Noemy Silveira Rudolfer no Instituto de Psicologia Aplicada. Entre 1931 a 1932, realizou o Curso de Aperfeiçoamento Pedagógico, dirigido por Lourenço Filho, onde teve aulas com Jean Maugué e Noemy Silveira Rudolfer.
Em 1932, foi nomeada professora da escola mista do bairro de Santo Antonio em São Roque, cargo que ocupou apenas nominalmente, haja vista a sua nomeação para o Serviço de Psicologia Aplicada, posteriormente, transformado em Laboratório de Psicologia Educacional do Instituto de Educação da USP. Sabe-se que a ocupação de cargo de professor secundarista era uma estratégia usada por aqueles que desejavam ingressar na carreira universitária, como vemos na trajetória de outros professores, como Arrigo Angelini e Gioconda Mussolini. Annita permaneceu neste cargo, na Seção de Medidas Mentais, até 1935; coordenou atividades de estágio ligadas à aplicação de técnicas de exames psicológicos, além de participar de pesquisas e ministrar curso de Psicologia Educacional. Em 1938, formou-se com distinção na primeira turma da Secção de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL/USP). No ano seguinte, exerceu o cargo de Primeira Assistente das duas cadeiras de Sociologia da FFCL/USP que eram dirigidas, respectivamente, por Roger Bastide e Paul Arbousse-Bastide.
No final da década de 1930 e início de 1940 foi Assistente da Cadeira de Psicologia, no Curso de Filosofia, então sob a direção de Jean Maugüé. Em 1941 recebeu bolsa de estudos da Latin American Fellowschip do Smith College, Northampton, Mass., nos Estados Unidos. Lá estudou Psicologia Experimental com J.J. Gibson e Psicologia da Gestalt com Kurt Koffka e Fritz Heider. Nos dois anos seguintes, sob orientação de Max Wertheimer, na Graduate Faculty, New School for Social Research, Annita Cabral desenvolveu e defendeu sua dissertação de mestrado intitulada "Memória das Formas". Posteriormente, ampliou este trabalho, transformando-o em sua tese de doutorado intitulada "O conflito dos resultados dos experimentos sobre a memória das formas", defendida em 1945 na FFCL/USP sob orientação de Roger Bastide e publicada no Boletim da Faculdade de Filosofia. Nesse mesmo ano, Annita Cabral foi nomeada Primeira Assistente de Otto Klineberg (1899-1992), que dirigiu a Cadeira de Psicologia até 1947, quando retornou para a Columbia University, nos Estados Unidos. Com a partida de Klineberg, Annita foi contratada para assumir a Cadeia III de Psicologia na qual permaneceu até 1968. Ramozzi-Chiarottino (2001) destaca que, com a vinda de Klineberg, a Psicologia começou a se impor como ciência no ambiente paulista. Foi nesse clima e com a ajuda de Klineberg que Annita tomou a iniciativa de fundar a Sociedade de Psicologia de São Paulo, atual Associação de Psicologia de São Paulo (ASPSP), da qual foi presidente entre os anos de 1948 a 1949.
Annita Cabral foi também idealizadora e fundadora do Curso de Psicologia na USP, bem como responsável pela formação de seus alunos como pesquisadores, pois procurou enviá-los ao exterior com a finalidade de completarem sua formação. Entre seus assistentes e auxiliares, destacam-se personagens relevantes e de diferentes orientações teórico-metodológicas na psicologia, como Dante Moreira Leite, Carolina Martuscelli Bori, Walter Hugo de Andrade Cunha, Cesar Ades, Isaias Pessotti e Eclea Bosi.
O Curso de Psicologia na FFCL começou a ser desenhado com a criação de linhas de pesquisa na Cadeira de Psicologia da Secção de Filosofia. Ainda de acordo com Ramozzi-Chiarottino (2001), isto ocorreu num ambiente hostil, haja visto o fato de ser uma mulher chefiando um grupo de pesquisa e sua Cadeira (de Psicologia) pertencer ao Curso de Filosofia cujas disciplinas não possuíam um perfil nos moldes da ciência de então, mas sim de reflexão e crítica acerca da Ciência e de seu método de estudo.
Em 1953, Annita Cabral propôs a criação do Curso de Psicologia na Universidade de São Paulo à Congregação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. O Colegiado Técnico de Avaliação (CTA) analisou a proposta e emitiu parecer favorável, homologado em 16 de dezembro do mesmo ano. No entanto, a aprovação final do parecer não foi tranquila. A professora Noemy Silveira Rudolfer (1938-1954), catedrática de Psicologia Educacional do Curso de Pedagogia da FFCL, criado em 1938 (oriundo do Curso de Professores no Instituto de Educação), emitiu parecer desfavorável.
O Curso de Psicologia foi criado somente em 1957, pela Lei nº 3.862, de 28 de maio daquele ano, sendo o seu funcionamento iniciado no ano seguinte. O curso era constituído pelas cadeiras de Psicologia Educacional (Curso de pedagogia) e de Psicologia (Curso de Filosofia), sendo que esta se desdobrou em Psicologia Clínica e Psicologia Experimental e Social.
Durante os anos de 1950, além de seu empenho na criação do Curso de Psicologia, Annita Cabral realizou outras atividades como a organização do I Congresso Brasileiro de Psicologia, ocorrido em 1953. Participou também de associações como a American Sociological Association (1950) e a Sociedade Interamericana de Psicologia (1954). Ainda em 1954, foi responsável pela criação da revista Boletim de Psicologia da ASPSP e, com o auxílio de Durval Marcondes, Aníbal Silveira e Cícero Cristhiano de Souza, criou a Especialização em Psicologia Clínica. Foi conselheira da Secretaria de Educação entre os anos de 1955 a 1956 e presidente da Associação Brasileira de Psicólogos no período de 1957 a 1958.
A partir de sua atuação no I Congresso de Psicologia, realizou consultas aos professores universitários para a realização de reunião acerca do anteprojeto de criação dos Cursos de Psicologia e da Regulamentação da Profissão de Psicólogos. Tal proposta fora inicialmente elaborada pela Associação Brasileira de Psicotécnica com a participação dos técnicos do Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) em novembro de 1953, tendo sido alterada em 1957 e enviada ao Legislativo em 1958. Em 1961, a partir das relações da Associação Brasileira de Psicotécnica com a Sociedade de Psicologia de São Paulo e a Associação Brasileira de Psicólogos, foi apresentado um substitutivo ao Anteprojeto de Lei 3.825/1958 do MEC possibilitando a criação dos cursos de Psicologia e a regulamentação da profissão de psicólogo com a Lei 4.119 de 27 de agosto de 1962.
Nos anos de 1960, Annita Cabral dedicou-se à melhoria do Curso de Psicologia, como a criação de uma oficina para construção de aparelhos científicos a serem utilizados nos laboratórios da Cadeira de Psicologia, contratação do analista experimental do comportamento Fred S. Keller (1899 ¿ 1996) para ministrar a matéria Psicologia Experimental, instalação de laboratórios, criação do Serviço de Psicologia Clínica e do Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho e do biotério. Além disso, fundou a revista Jornal Brasileiro de Psicologia.
Em 1968, a maioria dos assistentes de Annita Cabral, bem como muitos estudantes, envolvidos nos movimentos estudantis da época, pressionaram Annita para renunciar à Cadeira de Psicologia, que ela ocupava informalmente, visto não ter feito concurso para livre docente. Questionavam sua atuação como docente e administradora, acusando-a de despotismo, e solicitaram sua demissão pela USP. Annita Cabral renunciou à Cátedra, que foi transformada no Departamento de Psicologia Social e Experimental, mas continuou durante quase dois anos no Instituto de Psicologia como professora assistente do Departamento de Psicologia Educacional, a convite de Arrigo Angelini. Com a reforma universitária de 1968, deixaram de existir as cátedras. Em 1970, afastou-se da USP.
Annita de Castilho e Marcondes Cabral faleceu em São Paulo no ano de 1991.
Fontes:
Castro, A. C. & Alcântara, E. S. (2011). Associação Brasileira de Psicologia Aplicada (ABRAPA) ¿ 1993-. In A. M. Jacó-Vilela (Org.), Dicionário histórico de instituições de Psicologia no Brasil (pp. 45-47). Rio de Janeiro: Conselho Federal de Psicologia.
Ghiringbello, L. (2001). CABRAL, Annita de Castilho e Marcondes (1911 ¿ 1991). In R. H. F. Campos (Org.), Dicionário biográfico da Psicologia no Brasil: Pioneiros (pp. 106 - 108). Rio de Janeiro: Imago.
Ramozzi-Chiarottino, Z. (2001). Annita de Castilho e Marcondes Cabral e a aurora da psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago; Brasília, DF: CFP.
Autoria do verbete:
Lidiane de Oliveira Góesé doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da UERJ.
Ana Maria Jacó-Vilelaé Doutora em Psicologia, Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia - Clio-Psyché da UERJ.
Navegue pelo mapa do Portal
- Geral
- Acesso à Informação
- Institucional
- Organograma
- Competências
- Base Jurídica
- Conselho Deliberativo
- Agenda de autoridades
- Diretoria Executiva
- Comitês de Assessoramento
- Comissão de Integridade
- Quem é quem
- Propriedade Intelectual
- Normas
- Comissão de Ética Pública
- Gestão de Documentos
- História
- Servidores
- Estatísticas e Indicadores
- Horário de atendimento
- Organograma
- Bolsas e Auxílios
- Programas
- Prêmios
- Popularização da Ciência
- Comunicação
- Parcerias
- Estudantes
- Pesquisadores
- Universidades
- Empresas