-
Lucilia TavaresPsicóloga
No Laboratório de Psychologia da Colônia de Psychopathas do Engenho de Dentro, que funcionou de 1923 a 1932, sob a direção do psicólogo polonês Waclaw Radecki (1887-1953), atuaram diversos profissionais homens (médicos, advogados, filósofos) e duas mulheres: sua esposa Halina Radecka (1897-1980) e Lucília Tavares. Pouco se conhece sobre esta última.No Laboratório de Psychologia da Colônia de Psychopathas do Engenho de Dentro, que funcionou de 1923 a 1932, sob a direção do psicólogo polonês Waclaw Radecki (1887-1953), atuaram diversos profissionais homens (médicos, advogados, filósofos) e duas mulheres: sua esposa Halina Radecka (1897-1980) e Lucília Tavares. Pouco se conhece sobre esta última, autora do que até agora se conhece como o primeiro livro de psicologia publicado no Brasil por uma mulher: "Psychologia do Pensamento", de 1930 (TAVARES, 1930).
Lucilia Tavares era professora municipal, indicada pela Diretoria Geral de Instrução Pública ¿ o órgão responsável por Educação no Distrito Federal, na República Velha ¿ para ser assistente de Radecki no Laboratório. No período em que ali esteve, Lucilia desenvolveu trabalhos sob orientação de Radecki, que resultaram, além do livro citado, em um artigo em coautoria com o diretor do Laboratório, "Contribuição experimental à psychologia dos juízos", de 1928 (TAVARES & RADECKI, 1928) e um artigo de divulgação intitulado "À margem da Psychologia" (TAVARES, 1931), publicado no "Jornal do Commercio" do Rio de Janeiro.
As (poucas) informações disponíveis indicam que lá trabalhou de alguma data a partir de 1924 até 1932, quando o Laboratório foi transformado em Instituto de Psicologia, no qual existiu a primeira proposta de formação superior de psicólogos no Brasil, elaborada por Radecki. Lucilia integrava o corpo docente do Instituto, responsável pela cadeira de "Metodologia do trabalho experimental em Psicologia" (CENTOFANTI, 1982). Entretanto, ainda em 1932, por ingerências externas (a saber, pressões de setores médicos e católicos), o Instituto foi fechado, não chegando a iniciar sua proposta de formação superior.
Entretanto, tal relevância da atuação de Lucilia é proporcional à sua obscuridade. Lucilia é uma personagem tão pioneira quanto enigmática. Até mesmo suas datas de nascimento e morte são desconhecidas. Foi possível levantar poucas informações sobre ela, além de sua atuação no Laboratório da Colônia de Psychopatas.
Por exemplo, sabe-se que Lucília, juntamente com outros quatro assistentes de Radecki (Halina Radecka, Nilton Campos, Ubirajara da Rocha e Arauld Bretas) enviaram trabalhos para inscrição em um concurso da Escola Normal do Rio de Janeiro em 1930, que acabou sendo cancelado, tendo a cadeira ficado com Plínio Olinto, que lá já estava desde 1916.
Em relatório comemorativo dos dez anos do Centro de Orientação Juvenil ¿ COJ (BRASIL, 1956), Lucilia Tavares consta em uma lista de técnicos que colaboraram com supervisão e complementação aos cursos de Emilio Mira y López sobre Orientação e Seleção Profissional no Departamento de Administração do Serviço Público (DASP) e de Psicoterapia Menor na Fundação Getúlio Vargas (FGV), na década de 1940. Isto indica que, após o fechamento do Instituto de Psicologia, Lucília permaneceu atuando na psicologia, como uma das mulheres que contribuíram no processo de autonomização da área no Brasil.
As primeiras décadas do século XX assistiram à institucionalização da participação feminina no mercado de trabalho, principalmente na Educação. A busca por uma modernização do país, através da educação, tornou-se o argumento para as mulheres terem mais acesso à educação. Educadas para serem melhores mães e esposas, esse lugar como educadoras da família possibilitou às moças de classe média e alta saírem de casa e ocuparem os primeiros espaços profissionais como professoras primárias. (Jacó-Vilela, Degani-Carneiro & Messias, 2009). Lucilia Tavares não é, pois, exceção nesse contexto; mas o fato de ser a primeira mulher a atuar em um espaço prioritariamente masculino ¿ um laboratório localizado em um hospital ¿ e a data longínqua em que isso ocorreu (décadas de 1920 e 1930) despertam o interesse. O que levaria uma jovem professora, presumivelmente de "boa família", a sair do ambiente escolar e ir trabalhar em uma área de saber ainda desconhecida, emergente e em um ambiente de trabalho quase exclusivamente masculino?
Sua trajetória, portanto, evidencia alguns traços do paradigma do interesse das pioneiras da Psicologia no Brasil: em sua grande maioria, possuíam formação como professoras nas já existentes Escolas Normais, onde entravam em contato com o saber psicológico tanto em seu aspecto teórico quanto prático ¿ notadamente, os testes psicológicos. Desta forma, a inserção das mulheres na Psicologia ocorreu essencialmente através de questões pedagógicas, como a educação, a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.
Fontes:
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento Nacional da Criança. O Centro de Orientação Juvenil (1946-1956). Rio de Janeiro: MS, 1956. (Coleção N.N.Cr. nº 155).
CENTOFANTI, R. Radecki e a psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, Ano 3, n. 1, p. 2-50, 1982.
Jacó-Vilela, a. m., Degani-Carneiro, f. & Messias, m. c. n. A mulher na história da Psicologia no Brasil: resgatando Lucilia Tavares. In: LOURENÇO, E., GUEDES, M. C. & CAMPOS, R. H. F. Patrimônio cultural, museus, psicologia e educação: diálogos. Belo Horizonte: Ed. PUC Minas, 2009, p. 171-184.
TAVARES, L.; RADECKI, W. Contribuição experimental à psychologia dos juízos. in: ANNAES da Colônia de Psychopatas em Engenho de Dentro. Rio de Janeiro, 1928. p. 245-
TAVARES, L. Psychologia do pensamento: ensaio crítico e analytico baseado no systema do discriminacionismo affetivo de Radecki. Rio de Janeiro: Laboratório da Colônia de Psychopatas do Engenho de Dentro, 1930.
TAVARES, L. À margem da psychologia. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 1 mar.1931. p. 12.
Autoria do verbete:
Ana Maria Jacó-Vilelaé professora associada da UERJ, coordenadora do Programa de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia ¿ Clio-Psyché.
Filipe Degani-Carneiroé doutorando do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da UERJ.
Maria Cláudia Novaes Messias é mestreem Psicologia Social ¿ UERJ.
Navegue pelo mapa do Portal
- Geral
- Acesso à Informação
- Institucional
- Organograma
- Competências
- Base Jurídica
- Conselho Deliberativo
- Agenda de autoridades
- Diretoria Executiva
- Comitês de Assessoramento
- Comissão de Integridade
- Quem é quem
- Propriedade Intelectual
- Normas
- Comissão de Ética Pública
- Gestão de Documentos
- História
- Servidores
- Estatísticas e Indicadores
- Horário de atendimento
- Organograma
- Bolsas e Auxílios
- Programas
- Prêmios
- Popularização da Ciência
- Comunicação
- Parcerias
- Estudantes
- Pesquisadores
- Universidades
- Empresas